Este trabalho tem como ponto de partida os resultados de uma pesquisa etnográfica em nível de doutoramento onde procurou-se compreender se a filosofia do “Sumak Kawsay”, presente na cosmovisão andina, ao conciliar as ideias de desenvolvimento local e global, se caracteriza como um “movimento de resistência” ou mesmo uma alternativa aos modelos e ideais atuais de desenvolvimento e de progresso.
Partimos do entendimento de que o ideal de “desenvolvimento convencional”, que vem marcando as sociedade ocidentais, tem sido cada vez mais questionado, e que, portanto, a organização política e os níveis de produção e consumo das comunidades, precisam ser compreendidas a partir de um outro ponto de vista. Nossa proposta é realizar uma reflexão sobre conceitos, noções ou categorias como Desenvolvimento, Progresso, Tecnologia e Economia de Subsistência, relativizando-os a partir das cosmovisões indígenas. Sobre os dois primeiros se falará de um ponto de vista crítico tratando-os como “mitos fundadores” de uma sociedade sem destino. Sobre os dois últimos lançar-se-á mão de exemplos de sociedades que vivem em harmonia com a natureza e com seus projetos sociais para entendê-los como relativos a cada sociedade.
Seguindo os caminhos teóricos acerca da “mentalidade do bom viver”, do “decrescimento sereno” e da “simplicidade voluntária”, na tradição do que alguns autores chamam de enfoque pós-desenvolvimentistas, pautadas em experiências centradas na felicidade e no bom vivir (buen vivir, Sumak Kawsay, ou ainda o Teko Porã ou Nhandereko dos Guaranis), onde se inserem dimensões subjetivas do desenvolvimento, bem como o respeito à diversidade cultural e as cosmovisões dos povos indígenas, propomos em nossa pesquisa, a partir de um “olhar etnográfico”, ainda que em estágio da pesquisa bibliográfica, mas que futuramente ir-se-á a campo, compreender, se há nas comunidades indígenas do Tocantins elementos cosmológicos que, quando percebidos e compreendidos pelo estudo antropológico poder-se-iam configurar também como “movimentos de resistência” aos modelos de desenvolvimento “convencionais”. É nesse sentido, portanto, que se propõe a construção de uma cartografia do bom viver, pelo método etnográfico, para se pensar o que é desenvolvimento e políticas públicas para tais comunidades, quais seus limites e potencialidades e quais suas estratégias enquanto “movimentos de resistência” e de construção de utopias para outros mundos possíveis.