Ponencia

ZONA DO MANGUE: TERRA DE MULHERES INDÍGENAS NO RIO DE JANEIRO

Parte del Simposio:

SP.70: Memorias insurgentes: relecturas de la historia desde el protagonismo indígena

Ponentes

Juliana Lang Pádua

UFRGS - UFSM

Este trabalho discute os processos de apagamento e branqueamento (BENTO, 2002) socioespaciais nos espaços urbanos habitados por mulheres indígenas. A pesquisa tem como fio condutor o relato autobiográfico de Eliane Potiguara no livro Metade Cara, Metade Máscara (2018). No livro, Eliane relata as vivências suas e de suas ancestrais ao chegarem na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, após o processo de diáspora por elas vivido, vindas da Paraíba.
No Rio de Janeiro, foram viver na Zona do Mangue, que é narrada pela historiografia oficial como território de prostituição de mulheres brancas vindas da europa – conhecidas como polacas – a partir do final do século XIX. Localizado na região portuária do Rio de Janeiro, em meados do século XX esse território passou por grandes obras de remodelação urbana. Com viés higienista e segregador, o projeto previa a demolição de espaços populares e indígenas, incluindo a Zona do Mangue e a Rua General Pedra, onde Eliane viveu sua infância. Já adulta, Potiguara decide retornar à Paraíba, percorrer os caminhos já trilhados por suas ancestrais. Na Paraíba e em outros territórios indígenas por onde passa, escuta os seus mais velhos, produz uma busca ativa pela memória, e retoma sua identidade indígena.
Entende-se que a Zona do Mangue pode contar uma história sobre mulheres indígenas na cidade do Rio de Janeiro, discutindo as formas violentas e excludentes com as quais as cidades e seus modos de fazer se chocam às comunidades e aos corpos indígenas e seus modos de vida. Utiliza-se como método a revisão de literatura buscando pistas para reinventar a história da Zona do Mangue a partir dos rastros (TSING, 2019) deixados por Potiguara na obra Metade Cara, Metade Máscara. A memória coloca-se como ferramenta chave para a reconstrução das narrativas dos espaços urbanos a partir de uma perspectiva baseada nas vivências das mulheres indígenas nas cidades.