A apresentação reconstitui mediações e embates em torno do recente projeto de reforma do Vale do Anhangabaú – um dos espaços públicos mais expressivos e disputados de São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil – para, consequentemente, problematizar os efeitos de sua remodelação frente aos usos e apropriações citadinas que são feitas deste notável marco simbólico da metrópole. Os detalhes oficiais do mais recente projeto de reforma do Vale do Anhangabaú foram amplamente divulgados pela SP Urbanismo – empresa pública vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) – em período anterior à obra, cujo início se dera em 2019, tendo sido reproduzidos em portais virtuais de notícias. Algo que desperta a atenção em tais comunicações é a promoção de discursos que evocam menos as pretensões que se coadunam a uma agenda econômica neoliberal esperada para o local e o seu entorno, e mais o impacto sociocultural advindo da intervenção. Perspectiva provocada, pois, pelo conceito de “cidade para pessoas”, algo propagado por Jan Gehl, arquiteto e urbanista dinamarquês responsável por direcionar, juntamente com os profissionais de seu escritório, a metodologia dos estudos preliminares que guiaram a fabricação de consensos em prol do que passou a ser reputado pelo poder público municipal como uma requalificação do Vale do Anhangabaú. Ao analisar a remodelação de um espaço público feita através de investimentos do poder público, mas concedido, após a finalização da obra, para o gerenciamento da iniciativa privada, espera-se refletir sobre a seguinte questão: para quais pessoas o Vale do Anhangabaú foi reformado? A proposta será possível a partir da análise de documentos e publicações disponibilizadas por diferentes setores da Prefeitura de São Paulo; de reportagens jornalísticas propagadas em canais diversos; de posicionamentos de agentes ligados a múltiplas esferas da sociedade civil; do diálogo com autores vinculados aos estudos urbanos, além, ainda, de descrições etnográficas, por meio do acompanhamento cotidiano de situações ocorridas no Vale do Anhangabaú, com vistas a tensionar os anseios dos planejadores e a introduzir outros pontos de vista sobre as dinâmicas citadinas da capital paulista. Ao analisar os efeitos da parceria público-privada no planejamento urbano, almeja-se repercutir, por meio da apresentação, os agenciamentos que configuram a intrínseca relação entre formas de citadinidade e certas ações político-urbanísticas esperadas para São Paulo.