A expansão do Primeiro Comando da Capital do estado de São Paulo, onde surgiu, para a região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, é um processo das últimas duas décadas, que modificou sensivelmente a regulação das “mortes matadas”, e redefiniu o conflito entre grupos armados pela regulação da ordem urbana em todo o país. No Triângulo, a chegada de uma facção, um ator criminal externo, impactou diretamente nas dinâmicas criminais locais e, por consequência, nas taxas de homicídio. Dessa forma, a partir de um estudo sócio-histórico das últimas quatro décadas em três cidades do Triângulo Mineiro (MG), busco compreender como a atuação da facção brasileira PCC impacta na regulação (produção e/ou interdição) da violência letal. Nesse sentido, esta pesquisa se insere no debate sobre mecanismos de regulação de homicídios e a atuação das facções no Brasil.
A pesquisa é multi-metodológica: de caráter qualitativo na compreensão dos mecanismos envolvidos nos casos de homicídio, aliando a investigação das dinâmicas de deliberação e ocorrência destas mortes, com inferências explicativas produzidas a partir do que a análise das taxas de homicídios, tanto agregadas quanto desagregadas por perfil sociodemográfico, sugere. Neste contexto, ao longo de quatro décadas (1990-2020), observo três tempos analíticos que nos ajudam a explicar a variação de homicídios. A proposta de pensarmos em “tempos analíticos” é utilizada como forma fundamental de explicar essas variações, que explicaria o tempo de passagem de uma ordem urbana à outra, isto é, de uma forma de regulação da violência letal a outra.
O contexto empírico estudado demonstra diferentes regimes de ordem urbana, no tempo e no espaço, organizando a violência letal. Argumento que esses regimes, que produzem diferentes arranjos de regulação da ordem no Crime, em um mesmo tempo cronológico, respondem a uma sequência temporal sociologicamente regular, quando a marcação temporal é o processo de chegada, instituição e consolidação da hegemonia do PCC em cada território.
Neste sentido, os elementos empíricos que marcaram a mudança de uma ordem urbana para outra (como a chegada das armas cada vez mais poderosas para as facções, e a modificação no mercado de drogas ilícitas desde a década de 1990, que sustentaram a expansão do PCC), apesar de não terem ocorrido nos mesmos anos nas três cidades do Triângulo estudadas, demonstram um processo de transição de uma forma de regular a ordem urbana para outra. Argumento que essa passagem, que se deu nos três municípios em épocas distintas, se relaciona diretamente com as tendências de flutuação das curvas de homicídios – com períodos de elevação ou descida súbita. Os dados quantitativos refletem esses processos de conflitos e pacificações, notados também empiricamente, e apresentam taxas que representam, em parte, considerando que os indicadores de letalidade são construídos por burocracias estatais, esses processos.