Este trabalho aborda as pesquisas sobre as migrações internas, que estão sendo realizadas no norte de Minas Gerais/Brasil, em diálogos e discussões interdisciplinares no NIISA- Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental/CNPq, através do Grupo Opará – Mutum/Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Migrações e Comunidades Tradicionais do Rio São Francisco/CNPq. O núcleo e o grupo de pesquisa estão vinculados ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Social (PPGDS), na Universidade Estadual de Montes Claros- MG/UNIMONTES. Nesse artigo abordaremos a pesquisa sobre as trajetórias de migrantes quilombolas, que todos os anos fazem os deslocamentos sazonais para as colheitas de café, para as lavouras de tomate, para as plantações e colheitas de batatas, para os grandes projetos de agroindustriais. O objetivo é compreender o processo migratório com quem realiza a migração e com o grupo familiar e as modificações no modo de vida das famílias decorrente dos deslocamentos. O trabalho de campo foi realizado na perspectiva de Brandão (2003), enquanto uma relação intercultural que produz conhecimento, através de situações de pesquisa de longa duração. Utilizamos técnicas etnográficas como o diário de campo, a observação participante, os registros fotográficos e as entrevistas em profundidade. A oralidade nas conversas, nas entrevistas, nos eventos coletivos, foram fundamentais para a pesquisa, representando “o núcleo da investigação” (Amado,2005). No “estar lá”, nas comunidades realizamos interpretações da realidade, pois concordamos com Geertz (2002), que somente o agente social que faz ação, tem a dimensão da realidade vivenciada. Portanto, as trajetórias migratórias foram interpretadas através das narrativas dos homens, que saem durante mais de 04 meses todos os anos de suas comunidades para o trabalho agrícola e nas narrativas das mulheres e demais membros das famílias, que ficam nos quilombos. As migrações sazonais estudadas nos quilombos são atravessadas por marcadores de desigualdades estruturais como gênero, raça e geração. O movimento entre sair e ficar, modifica os modos de vida no quilombo, pois, provoca “a concepção de ausência”, (Martins, 1988) naquele que migra, que permanece sempre fora do lugar, ao mesmo tempo, que auxilia na afirmação do reconhecimento como quilombola e na luta pelo território tradicional através do retorno e do sentido de pertencimento ao lugar.