Trata-se de uma apresentação sobre o fazer etnográfico com imagens médicas. Abordo o estudo laboratorial do ultrassom diagnóstico, conectando com outros investimentos empíricos paralelos, em uma etnografia multifacetada da produção, circulação, usos e efeitos de imagens ultrassônicas. Além de um laboratório de engenharia biomédica, outro caso é o de um laboratório de design, no qual fetos são impressos a partir de impressora 3D e de uma combinação computadorizada de diferentes imagens fetais, sendo que muitas das imagens são realizadas tendo em vista a clientela de mulheres gestantes e suas famílias. O universo das gestantes, dos médicos, dos técnicos e das clínicas de imagem também compõe essa cartografia das redes do ultrassom e suas diferentes formas de agência. O objetivo é atentar para a produção científica e laboratorial de tecnologias de imageamento biomédico, mas sem desatrelá-la dos movimento, associações e transformações das imagens e tecnologias ao longo de redes diversas. Pretendemos realizar aqui uma discussão acerca da estabilização, consolidação e difusão de tecnologias biomédicas com finalidades clínico-diagnósticas mas também científico-educacionais. Trata-se do desenvolvimento de imagens compósitas tridimensionais de gestações em andamento e da confecção de diferentes protótipos (“bonecos”) de embriões e fetos – quase sempre portadores de “anomalias congênitas” – por uma rede majoritariamente brasileira de pesquisadores/as da área de design e engenharia e médicos/as obstetras. Além da prototipagem fetal e elaboração de novos imageamentos diagnósticos, tal rede desenvolve softwares de realidade virtual aumentada e interativa no intuito de contribuir com a formação de futuros profissionais de saúde e com a consolidação de novas searas na chamada “medicina fetal” – neste caso, em progressiva interface com ciências gráficas, visuais e de materiais sintéticos. Tendo isso em vista, buscamos aqui realizar uma reflexão antropológica em torno investigação médico-científica sobre desenvolvimentos fetais considerados “anômalos”, mas também de gravidezes, maternidades e paternidades atravessadas por “riscos” médicos, “probabilidades patológicas” e materializações da deficiência fetal, da perda gestacional e dos vínculos futuros resultantes de gestações consideradas “atípicas” ou mesmo de gestações de mulheres deficientes visuais.