A atual conjuntura sociopolítica se mostra extremamente desfavorável, em que proposições reacionárias ganham força, visando atender uma diversidade de interesses empresariais. Esses interesses, representados por setores do agronegócio, de empresas de mineração, de setores imobiliários e da construção civil, articulados com a implantação de complexos de geração de energia, se contrapõem diretamente a modos de vidas dos povos e comunidades tradicionais. Destaco a usurpação dos recursos naturais existentes nas terras tradicionalmente ocupadas e nas águas de uso comum de lagos, rios e mares. Para exploração dos recursos naturais se intensificam desmatamentos, contaminam-se terras e águas, deslocam-se famílias de suas terras, ameaçam e criminalizam agentes sociais que buscam organizar mobilizações de resistência. Essa exploração, invariavelmente, se contrapõe tanto à legislação ambiental e às legislações que garantem direitos às terras tradicionalmente ocupadas.
Por outro lado, os movimentos sociais buscam novas estratégias para articular ações de resistência. Cada vez mais a construção de conhecimentos é utilizada como orientação para construção destas ações. Além de conhecimentos para compreensão de situações de seus interesses, buscam-se conhecimentos que sirvam de subsídios para a articulação de uma contra narrativa que possa contrapor proposições que legitimam os interesses dos empreendimentos ligados aos setores citados acima.
Os movimentos sociais identificam a construção de conhecimentos como uma das bases das estratégias de luta, e passam a incentivar que jovens que pertencem a povos e comunidades tradicionais adentrem no campo universitário. Essa entrada na universidade tem se fortalecido após a promulgação de políticas públicas, através de leis, normas e procedimentos específicos, relacionados à reserva de vagas para povos indígenas e negros. Processos especiais de seleção para pessoas que pertencem a povos indígenas, quilombolas e assentamentos rurais também permitiram um maior acesso às instituições de ensino superior. Outro destaque foram as bolsas específicas para indígenas e quilombolas, que permitiram uma permanência qualificada na universidade.
A formação de pesquisadores que pertencem a povos e comunidades tradicionais têm provocado a universidade a refletir sobre as formas de construção de conhecimentos, buscando ampliar as bases epistemológicas que orientam a pesquisa, a extensão e o ensino. Estes pesquisadores estão trazendo uma maior diversidade de temas, de abordagens e perspectivas para o mundo acadêmico. Neste contexto, os grupos de pesquisa que integram a rede Nova Cartografia Social passaram a se reestruturar para um contexto mais expandido de construção de conhecimentos, incorporando em nossas equipes pesquisadores indígenas, quilombolas, pescadores, de fundos e fechos de pasto, vazanteiros, de povos de religião de matriz africana. Por outro lado, os movimentos sociais criam certas expectativas com a formação de novos quadros, e as próprias famílias percebem a graduação de seus jovens como uma forma de ascensão social. Neste sentido, o ingresso na universidade vem carregado de desafios, pessoais e coletivos, que impulsionam estes jovens pesquisadores a elaborarem arranjos para uma boa sintonia entre os campos acadêmico, militante e a vida pessoal.
Este exposição busca refletir alguns desafios relacionados a formação destes novos pesquisadores.