Ponencia

Narrativas Orais e Construção de Territorialidades Específicas em São Roque – MA.

Parte del Simposio:

SP.66: Povos indígenas e comunidades tradicionais: desafios da violência em conflitos territoriais e socioambientais no século XXI

Ponentes

Maryane Monroe Martins

Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

Este trabalho é fruto de pesquisas que se iniciaram no
ano de 2021 através do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
PNCSA- UEMA/CLUA, que corresponde ao projeto intitulado “Megaprojetos em
implementação na Amazônia e impactos na sociedade e na natureza”, que teve como objetivo, a
construção do mapeamento social dos quilombos de Anajatuba- Maranhão, a convite da
União das comunidades negras, rurais e quilombolas de Anajatuba (UNIQUITUBA). A comunidade quilombola de São Roque, que encontra-se localizada na área de influência
da duplicação da BR-135 e do “Corredor Carajás”, no município de Anajatuba.
Atualmente, os territórios referidos a comunidade de São Roque, estão intrusados por
fazendeiros. Estes realizaram o cercamento das áreas impedindo a circulação da comunidade
quilombola pelo território e expropriação dos recursos naturais, resultando em tensões sociais latentes. Às áreas cercadas pelos
fazendeiros são reivindicadas pelos quilombolas. Neste sentido, o objeto deste trabalho remete
as narrativas orais que orientam a reivindicação das terras tradicionalmente ocupadas pelos
quilombolas. O município de Anajatuba segundo dados encontrados no site de comunicação e informação da
Prefeitura do município, está localizado no Estado do Maranhão, Brasil, mais precisamente na
microrregião da baixada maranhense, passou por vários processos territoriais, até conquistar o
título de cidade em 1938. É composta por planícies alagadas, o que a faz propícia a criação de
bovinos e bubalinos, além da produção agrícola baseada no arroz, mandioca e milhos, tendo
assim uma economia agrária, com a exportação de arroz, babaçus e bovinos. Entre uma das
falas, destaca-se a da Maria do Rosário Frazão quando conta que “os negros trabalhavam de
graça, só mesmo pelo que comia, apanhavam demais, eram muito torturados nessa época, meu
pai disse que meu avô contava que os negros apanhavam tanto que ficava todo inchado”.
Como podemos observar, são inúmeras as narrativas que remontam ao passado de escravidão.
Tais narrativas buscam reforçar a reivindicação territorial diante de antagonistas atuais.
anteriormente. Tal pesquisa pretendeu entender a partir dos dados coletados, de
que forma a comunidade quilombola de São Roque aciona a sua identidade étnica a partir de
suas narrativas orais. Tentando assim discutir sua etnicidade e identidade quilombola através
da memória. Dessa maneira, seguindo o ritmo das transformações sociais ocorridas pela
influência do grande capital, que nem sempre é contínuo, os quilombolas na
contemporaneidade, estrategicamente, estão aprendendo a lidar com as novas situações
sociais, “ressignificando” suas tradições em instrumentos de luta pelas reivindicações em
defesa de seu território para as presentes e futuras gerações.
Diante da expropriação territorial, reprodução social e perda da autonomia provocadas
pelos cercamentos das fazendas, os quilombolas passaram a se mobilizar coletivamente,
resgatando através da memória social, a trajetória dos ancestrais desse grupo, dos espaços
sagrados, os caminhos históricos dentro do território que hoje são proibidos de trafegar,
elementos culturais, dentre outros aspectos que são destacados neste trabalho.