Ponencia

MÃE NEGRA: Fala, Grito, Silencio e Sussurro.

Parte del Simposio:

SP.74: Desigualdades, ilegalismos y violencias: ¿cómo pensar el estado en esta encrucijada?

Ponentes

ARIANA DOS SANTOS GOMES

UFSCAR/UFRB/UFSB

Ao me deparar com o tema que me direcionou, e continua me direcionando a investigação da minha pesquisa de doutorado, fui levada o que para mim é o mais gritante no bairro em que moro desde de quando nasci. Me encontrei com a minha própria vivência que se mescla às experiências das mães negras que perdem filhos de morte violenta, e que me levaram a pensar na quebra do silêncio que gira em torno dessas mortes e consequentemente da dor, e dos traumas em continuidade que essas mortes geram. São dores silenciadas porque existe uma resistência social em não chorar a morte de um filho que morre por armas de fogo, como é o caso das mortes de muitos jovens negros em comunidades, por elas estarem geralmente associadas ao envolvimento com o crime. Os dados apresentados no Atlas da Violência 2020, evidenciam que as mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil e os homens negros representaram 75,7% das vítimas de homicídios. Essas informações mostram que em todos os Estados brasileiros um negro tem mais chances de ser morto que um não negro (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2020).

A pesquisa MÃE NEGRA: Fala, Grito, Silencio e Sussurro, visa analisar, interpretar as dinâmicas (intervenções e praxes) das Mães Negras nas suas diversas interconexões entre Raça, Gênero, Classe e os processos de subalternização no contexto de suas práticas sociais diversa em Salvador no território do Ogunjá, as relações sociais que atravessam a vida destas mulheres em suas encruzilhadas, surgem algumas questões: Em que dimensão a mãe negra é atravessada pelas representações depreciativas com relação a construção de uma imagem de condição genérica do negro nas redes simbólicas da formação social assim constituída na cidade; Quais categorias de significado em termos de representação, identidade e ação são úteis para o estudo de gênero, raça e classe em uma perspectiva interseccional na vida cotidiana da Mãe negra; e Como a análise de discursos produzidos por estas mulheres em suas vivências cotidianas podem exemplificar as questões elencadas.

Estamos após 135 anos da abolição oficial da escravatura, e a minha reflexão acerca da minha pesquisa é como transformar um mundo dominado por um pensamento branco-ocidental que nos querem preso ou morto, e como minhas interlocutoras pode escapar do destino colonial, como escapar do silenciamento programático, como escapar da exposição em praça pública onde o Pelourinho hoje é virtual. Quais os contornos da formação sócio histórica brasileira nos permitem compreender o entrelaçamento entre raça, gênero e classe, e quais os caminhos para a construção de um projeto de ruptura e emancipação popular construído de baixo para cima, sendo a população negra protagonista!