Este trabalho é fruto de uma pesquisa que objetiva compreender diferentes dimensões da vivência da sexualidade na velhice. A proposta é entender os efeitos das práticas discursivas sobre corpo, sexualidade, envelhecimento e desejo na vida de homens e mulheres na fronteira etária dos 60 anos de idade. Tais sujeitos são moradores da cidade de Natal e algumas cidades vizinhas, no estado do Rio Grande do Norte, localizado no nordeste do Brasil. No desenvolvimento da pesquisa, e com a retomada de atividades de socialização depois do período de isolamento social, o universo dos forrós voltados para pessoas “mais velhas” se abriu. Os forrós foram mostrando novas perspectivas para o campo com circuitos de paqueras, sociabilidades, danças, festas, namoros, sexo e também reflexões sobre saúde atreladas à participação das pessoas nesses espaços. Apesar de se inserir num conjunto mais amplo de festas populares, o trabalho se delimita ao estudo dos bailes e forrós da “melhor idade”, que são direcionados a pessoas chamadas nesses locais de “coroas”, “mais velhas”, “na terceira idade” etc. Para as e os interlocutores, dançar, conversar, flertar etc., significa sentir alegria e as festas são vistas como formas de promoção à saúde. Nesses encontros, os namoros e a diversão podem ser entendidos como uma oposição ao envelhecimento estigmatizado, como uma fase de ausência, falta e deterioração. Mas, simultaneamente, são locais em que se estabelecem e se renovam códigos e avaliações morais sobre o dever ser dos comportamentos erótico-afetivos “na velhice”, atualizando também códigos de gênero. A pesquisa, então, constrói um estudo etnográfico de três eventos voltados para pessoas “mais velhas”, prestando especial atenção às definições nativas do que seja envelhecimento, às associações feitas pelas pessoas entre diversão e saúde e aos discursos especializados disponíveis para elas sobre o dever ser da sexualidade e do erotismo depois dos 60 anos.