Ponencia

Experiências de parir e maternar em um contexto universitário, fora dos grandes centros urbanos, no litoral do Paraná

Parte del Simposio:

S.P. 75: Experiências de maternagem, práticas de cuidado e políticas de reprodução social na América Latina

Ponentes

ALINE DE OLIVEIRA GONCALVES

UTFPR

Neste trabalho analiso concepções relacionadas à maternidade expressadas por um grupo de mulheres brasileiras que optou por um parto domiciliar planejado, conscientes que não poderiam contar com a presença de uma assistente de parto (enfermeira ou parteira). O artigo apresentado traz resultados parciais de uma pesquisa doutoral em curso, inserida no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGTE/UTFPR), cujo objetivo é identificar e analisar as estratégias usadas por mulheres que optaram pelo parto domiciliar autoassistido no litoral do Paraná, mediante o desenvolvimento e emprego de tecnologias não-convencionais.
A pesquisa contou com a colaboração de 12 mulheres, as quais relataram suas experiências, sendo que 10 delas pariram em casa no período em análise (2012 a 2020), as outras duas fizeram parte da rede de apoio. As conexões entre elas se deram por meio da convivência universitária, em um campus avançado da Universidade Federal do Paraná (UFPR – Setor Litoral). Elas eram estudantes ou recém-formadas quando engravidaram, gestaram e optaram por um parto domiciliar autoassistido, ou seja, sem a presença de uma profissional da saúde ou de uma parteira tradicional. Os partos ocorreram no litoral do estado, 09 no município de Matinhos e 01 em Morretes. Além de viverem no mesmo local, terem idades próximas, todas elas participaram de rodas de apoio à gestação e ao parto, promovidas por uma cooperativa local, nas quais se encontravam mensalmente para trocar conhecimentos e experiências. Essas rodas se assemelhavam aquelas promovidas por doulas, inseridas na perspectiva da proposta de “parto humanizado”. Apesar de visões convergentes com essa proposta, como o incentivo à experiência do parto vaginal, da amamentação em livre demanda e o fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê, as mulheres que as promoviam não usavam e até mesmo questionavam o termo “parto humanizado”.
A partir da análise do conteúdo das entrevistas foi possível identificar que a gestação não foi planejada por 08 dessas mulheres; que a maternidade está sendo exercida, pela maior parte delas, em estruturas familiares baseadas em relacionamentos heterossexuais estáveis. Das 10 entrevistadas, 07 tiveram apenas um filho até o momento das entrevistas e as outras 03 são mães de 02 crianças. Após o período de licença maternidade, elas deram continuidade aos estudos ou ao trabalho, conciliando a maternidade com seus demais projetos.
Na análise das suas falas foram discutidos três aspectos relacionados à maternidade: o papel moral e disciplinar do saber médico sobre o comportamento da mulher e o exercício da maternidade; as desigualdades entre gêneros nas atribuições de cuidados e outras perspectivas de maternar e paternar; e novos-antigos arranjos do cuidar.
A partir desses três aspectos pondero, em que aspectos essas mulheres estariam rompendo com práticas de maternidade construídas na lógica de desigualdades de poder entre os gêneros, assim como romperam com a prática do parto hospitalar tecnocrático.