O rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho, Minas Gerais, em janeiro de 2019, revelou um cenário emblemático de desigualdades e injustiças ambientais no contexto do que vem sendo chamado de Neoextrativismo. Este estudo de caso busca analisar as dimensões socioambientais desse desastre e as respostas que surgiram, à luz do simpósio pretendido.
A ruptura da barragem provocou um derramamento catastrófico de rejeitos de mineração que destruiu comunidades locais, causou a perda de vidas humanas e impactou gravemente o meio ambiente. Esta tragédia evidenciou a vulnerabilidade das populações que vivem próximas a empreendimentos minerários, bem como a fragilidade das regulamentações ambientais e das práticas de gestão corporativa. Além disso, destacou a necessidade de se repensar a exploração de recursos naturais em busca de um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental.
As desigualdades socioeconômicas foram agravadas nesse contexto, uma vez que as comunidades afetadas eram, em grande parte, compostas por pessoas de baixa renda. Muitos dos impactados eram trabalhadores da própria empresa mineradora, a Vale, demonstrando a vulnerabilidade dos próprios empregados. A resposta inicial à tragédia revelou a falta de um sistema de alerta adequado e um plano eficaz de evacuação. Além disso, o acesso a cuidados de saúde e apoio psicossocial para as vítimas foi desigual, com grupos marginalizados enfrentando maiores dificuldades em obter ajuda.
No entanto, o desastre também desencadeou uma série de mobilizações e resistências. Movimentos sociais, organizações não governamentais e a própria comunidade local se uniram em busca de justiça e reparação. As demandas por responsabilização das empresas envolvidas e por mudanças nas políticas de mineração ganharam destaque. O caso de Brumadinho ilustra como as comunidades afetadas podem se organizar e lutar por seus direitos, mesmo diante de poderosas corporações.
A coleta de dados para este estudo de caso baseou-se na técnica de observação participante. Minha atuação profissional no território afetado pela tragédia, como pessoa graduada em ciências sociais e estudante de direito, permitiu uma imersão profunda nas realidades das comunidades atingidas. A observação participante tornou possível a compreensão das dinâmicas locais, das experiências das pessoas afetadas e das interações entre diversos atores, desde as vítimas até os agentes governamentais e representantes das empresas envolvidas. Esta técnica proporcionou uma visão contextualizada e enriquecedora do desastre socioambiental, permitindo a captura de nuances e detalhes que seriam de difícil acesso por meio de abordagens puramente documentais ou entrevistas formais.
Este estudo de caso oferece lições importantes para a antropologia e para a compreensão das desigualdades e injustiças ambientais na era da expansão das fronteiras extrativistas. Ele destaca a importância de abordagens multidisciplinares que combinem conhecimentos da antropologia, direito e ciências sociais para analisar e abordar essas questões complexas. Além disso, ressalta a necessidade de promover alternativas de desenvolvimento sustentável que considerem o bem-estar das comunidades afetadas e o meio ambiente, em contraposição à busca desenfreada por lucro. O caso de Brumadinho nos desafia a repensar as práticas e alternativas em busca de mundos possíveis mais justos e equitativos.