Ponencia

Construção de Instrumentos Musicais: Fazeres e Saberes

Parte del Simposio:

SP.9: Antropología de la música en América Latina y el Caribe

Ponentes

João Alexandre Straub Gomes

Universidade Federal de Pelotas

Rafael da Silva Noleto

Universidade Federal de Pelotas

Brasil

Nesse trabalho, apresentamos reflexões oriundas de nossa pesquisa no Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas – RS/Brasil. Estamos abordando o tema da construção de instrumentos musicais, sob a perspectiva da antropologia da técnica e os concebendo enquanto dispositivos técnicos/tecnológicos e epistemológicos. A pesquisa encontra-se em fase de desenvolvimento. Portanto, pretendemos apresentar uma visão panorâmica da investigação, bem como alguns resultados parciais. Em linhas gerais, as ideias estão organizadas de modo a contemplarmos articuladamente discussões conceituais, reflexões acerca de pressupostos filosóficos e teórico-metodológicos e abordagem empírica. Com a finalidade de alcançarmos melhor compreensão, discutimos cada uma dessas dimensões separadamente. Mas é importante mantermos em mente a ideia que os conceitos, teorias e práticas constituem um todo integrado e interrelacionado.
Em relação à dimensão conceitual, são centrais os conceitos de instrumento musical, de técnica e de tecnologia. No entanto, a abordagem de cada um deles revela a necessidade de digressões, tornando fundamental a abordagem quanto a concepção de novas ideias, tais como as de música. Pensar nos instrumentos musicais como dispositivos técnicos/tecnológicos e epistêmicos nos conduz a uma ampliação de possibilidades. Passamos a compreendê-los para além de objetos que permitem fazer música. Ou seja, compreendemos que o conceito de instrumento musical envolve outras filosofias, além daquela que define os objetos em detrimento de sua função, ou finalidade.
Além disso, desse modo o estudo sobre instrumentos musicais vai além da organologia, que corresponde ao instrumento musical em si mesmo, sobretudo em seus aspectos fisiológicos. Essa ampliação suscita a incluirmos no estudo conceitual sobre instrumento musical, ideias de comportamento em relação a eles. Dentre diferentes possibilidades, focamos nos comportamentos relativos à construção dos instrumentos musicais, o que nos leva à conexão entre os instrumentos e o estudo das técnicas e tecnologias. Esses conceitos têm sido discutidos por diversas áreas do saber e por diferentes setores da sociedade. Em nossa investigação, o eixo temático sobre técnica e tecnologia aponta para a necessidade de esclarecimentos quantos à equivalência, às divergências e às relações entre esses termos, sendo que estamos fundamentando nossa abordagem, principalmente a partir da contraposição das propostas da escola francesa e da contribuição do autor brasileiro Álvaro Vieira Pinto.
Os procedimentos metodológicos dessa pesquisa etnográfica contemplam duas fases. A primeira, estabelece esse acercamento teórico, com revisão de literatura e definições conceituais importantes para compreensão do contexto temático. E a segunda corresponde ao trabalho de campo, caracterizada sobretudo pela observação participante/flutuante e utilização de entrevistas semiestruturadas. A fase de trabalho de campo, está fortemente caracterizada pela observação participante, já que pretendemos realizar uma interação prática com pessoas que fabricam instrumentos. A ideia é que tenhamos a oportunidade de aprender sobre construção de instrumentos musicais também a partir do fazer. O aspecto flutuante da observação surge no modo como construiremos o protocolo de ida a campo. Como nos ensina Colette Pétonnet, essa forma de observação prevê o deixar-se flutuar e permitir-se a ver tudo que está para além do foco delimitado pelo objetivo de uma observação participante.