Ponencia

Cenas de dominação colonial de mulheres racializadas em asilamento psiquiátrico, pré-Reforma psiquiátrica brasileira.

Parte del Simposio:

SP.68: Raza, cuerpos y micro/cosmopolíticas en performances situadas

Ponentes

Daniele s Filgueiras da Silva Alves

UFF

Em setembro de 2019, participo do “III Encuentro Latinoamericano y del Caribe de Derechos Humanos y Salud Mental”, que ocorre na cidade de Rosário, na Argentina. Durante o evento, crio a performance “Ilumin(Ación)”, que objetiva mostrar, por meio de fotos, o recorte racial e socioeconômico dos indivíduos internados em instituição psiquiátrica brasileira. A partir da experiência estético-política, inicio o projeto de investigação, que se desdobra na dissertação de mestrado intitulada “Pode uma “louca” ser mãe? Análise interseccional das histórias de vida de mulheres que se tornam mães durante asilamento psiquiátrico”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da (PPGS/ UFPE) e continuada no doutorado em Sociologia do (PPGS/ UFF), com subsídio CAPES. A pesquisa científica é inédita, aborda casos de mulheres que se tornam mães durante o asilamento em instituição psiquiátrica, antes da lei que institui a Reforma Psiquiátrica brasileira. Durante a investigação, realizada em cidades brasileiras, identifico um padrão no perfil das mães em asilamento psiquiátrico: as mulheres são racializadas, estão em vulnerabilidade social, não apresentam transtornos mentais, são estupradas, e, em seguida, internadas pelxs agressorxs. Gonzalez (2021) descortina a realidade brasileira da miscigenação ao afirmar que esta, nada mais é, do que o resultado “de estupro, de violentação, de manipulação sexual da escrava.” Dessa forma, estuprar mulheres negras escravizadas é a prática frequente do regime escravocrata, enquanto o estupro é uma prática de dominação colonial (SEGATO, 2021) contra mulheres racializadas. Enquanto isso, o contexto manicomial pré-reforma é pautado em um modelo de assistência às pessoas portadoras de transtornos mentais, que prevê a internação prolongada e vagos critérios para a admissão em instituição psiquiátrica. Dessa forma, há uma aproximação do contexto psiquiátrico brasileiro, pré-reforma psiquiátrica, com o processo de colonização europeu e do regime escravocrata no Brasil, quando é percebido que as mulheres estupradas e encarceradas são as mulheres racializadas. A partir das narrativas das entrevistadas e da análise interssecional de suas histórias, se nota a performatividade dos papéis de gênero, raça e classe social e a sua reencenação. A performatividade das cenas de dominação colonial e escravocrata produzem o encarceramento psiquiátrico das mulheres racializadas e a regulação de suas maternidades pela instituicao psiquiátrica, que se apresenta como uma “engrenagem perversa” (ALVES, 2023), que silencia e estigmatiza pela loucura, as vítimas de estupro. Como forma de proteção às entrevistadas, no âmbito desta pesquisa, as identidades não são reveladas. Para dar corporeidade imagética à investigação, proponho a criação da performance “No Rastro”, em que os dados coletados na pesquisa sociológica são traduzidos para a linguagem performativa.