A comunicação visa relatar dados de pesquisa em desenvolvimento visando compreender as representações de acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência na Universidade Federal Fluminense e como estas podem demandar serviços mediados por tecnologia digital. Para tal, foi realizado levantamento bibliográfico sobre o tema, entrevistas com os atores e pesquisa de campo em serviços oferecidos a pessoas com deficiência. O objetivo é mapear o funcionamento desses serviços, lançando luz sobre as rotinas. Interessa-nos conhecer como tais serviços se articulam com as politicas académicas, bem como se dão as interações entre os atores e sua agência no processo de mudança e desenvolvimento institucional, a partir de suas demandas, queixas, reclamações, proposições, entre outros aspectos.
No contexto das universidades públicas federais brasileiras, com seu ambiente crítico e criativo, a UFF possui um legado histórico de resistência a medidas antidemocráticas. Estabelecida na década de 1960, abrange vários municípios, oferecendo uma variedade de cursos e envolvendo uma comunidade diversificada. O ambiente universitário vibrante é um palco dinâmico para movimentos, coletivos e grupos que moldam e contestam continuamente políticas, influenciando a construção de estratégias e políticas públicas.
Este resumo, fundamentado em reflexões socioantropológicas de seus autores nas mudanças institucionais da UFF durante a implementação do projeto Campi inteligentes em prol da mobilidade e acessibilidade com segurança e dignidade , projeto de pesquisa aplicada que busca compreender e promover reflexões que subsidiem o desenvolvimento de aplicações e inovações para a segurança universitária, combinando tecnologias sociais e digitais, com foco na autonomia, mobilidade e melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência nos campi e unidades da universidade.
Na UFF, as políticas de Acessibilidade e Inclusão originam-se a partir de iniciativas como ‘Sensibiliza UFF’ em 2005 e envolve marcos significativos, como o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2013-2017, a criação da Escola de Inclusão e a conformidade com o PDI 2018-2022 em alinhamento com a legislação. A pandemia de COVID-19 em 2020 impulsionou ações afirmativas na contratação de docentes e apresentou desafios na inclusão digital. O PDI 2023-2027, apresenta indicadores de acessibilidade, destaca o papel dos setores responsáveis pela implementação do sistema de metas para monitoramento da criação de um ambiente inclusivo. As mudanças regulatórias influenciam diretamente na variabilidade e padronização dos serviços oferecidos por setores dedicados às necessidades de pessoas com deficiência.
Analisando as políticas e serviços da UFF, percebe-se um padrão semelhante aos movimentos sociais nas arenas públicas de políticas públicas (Cefai, 2017; Barbosa, 2021; De Paula, 2021), nos quais ações isoladas de servidores, estudantes e movimentos sociais eventualmente são absorvidas e institucionalizadas. Apesar dos avanços nos direitos civis, observa-se um estigma que categoriza as deficiências em uma escala de passabilidade, conceito incorporado a partir das teorias críticas de raça que expressa a ideia de que as pessoas com deficiência só serão aceitas nos espaços e relações mais reservados às pessoas sem deficiência se não fugirem demais da aparência e conduta tidas como “normais” (Campbell, 2008), influenciando a implementação de políticas.