Ponencia

A gestão política no Brasil a favor do apagamento histórico da ditadura

Parte del Simposio:

SP.67: Los desafíos actuales de los sitios de memoria: la gestión política de violencias masivas pasadas y presentes

Ponentes

Syntia Alves

Universidade Metropolitana de Santos

A atual democracia brasileira, oficialmente iniciada em 1985, ainda é considerada como uma “democracia jovem”. Mais do que a questão etária, o regime democrático brasileiro é caracterizado por sucessivas crises que colocam tanto a legitimidade do poder executivo em questão, quanto as organizações e representações da sociedade civil em crise. Nesse sentido, a memória da ditadura, cujo golpe, em 2024, completa 60 anos, protagoniza uma disputa de narrativas que colaboram para que a sociedade tenha visões parciais ou distorcidas desse período da história brasileira. Uma das consequências da disputa de narrativas é o fato dos lugares de memória associados a processos autoritários e de violações de direitos ser relativamente recente no Brasil. Na cidade de São Paulo, até o ano de 2016, momento do golpe contra a presidente Dilma Rousseff, o único lugar de memória da ditadura militar musealizado foi o antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social de Paulo (DEOPS/SP). O antigo prédio do DEOPS/SP chegou a se tornar um lugar de memória da ditadura graças à mobilização do Fórum de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, ou seja, uma iniciativa de pessoas que sofreram diretamente os abusos da ditadura brasileira. O inventário realizado pelo Memorial da Resistência aponta um conjunto de 131 lugares ligados à repressão e à resistência ao regime militar em municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Mas, de acordo com a pesquisa, apenas 14 deles receberam algum tipo de intervenção que articula as violações ocorridas e as memórias sobre elas à materialidade dos lugares, de modo a possibilitar a incorporação de novos sentidos e outros tipos de apropriação.
Assim, o atual trabalho pretende apresentar a atual busca, na cidade de São Paulo, pela construção de um circuito de lugares de memória da ditadura. O foco deste trabalho é observar como os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro interromperam, tanto de maneira efetiva quanto simbólica, a atuação de acadêmicos, pesquisadores e sociedade civil na manutenção do que foi a ditadura no Brasil e como suas atuações contribuíram para que, atualmente, parte da sociedade brasileira se coloque contra a exposição e rememoração dessa parte da história. Para tanto, serão apresentados dados levantados durante os referidos governos a fim de compreender como suas atuações influenciaram para a atual situação de apagamento histórico da ditadura no Brasil.