Ponencia

A gestão do cabaré Realeza: as relações de trabalho entre proprietário e boys

Parte del Simposio:

SP.71: Perspectivas socioantropológicas sobre las desigualdades en el ámbito del trabajo y la vida de las/os trabajadora/es

Ponentes

Roberto Carlos Nunes Queiroz de Mendonça

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Este trabalho é resultado da minha pesquisa de doutorado, ainda em desenvolvimento, que está situada num cabaré de homens, que chamo de Realeza. A Baronesa, como aqui denomino o proprietário do Realeza, é um homem pardo, gay, de 56 anos de idade que funda o cabaré Realeza em 2020, durante a/por causa da pandemia, e que até então não tinha agenciado boys. Desde a fundação do Realeza, a Baronesa tem recrutado boys – como são nominados no estabelecimento os homens que realizam sexo pago – originários de outros municípios e que, portanto, todos eles estão em situação de deslocamento. Com isso, os boys passam a residir temporariamente no cabaré, pagando uma taxa semanal pela sua estadia, além de ser cobrado uma taxa diretamente ao cliente (ou em situações específicas aos boys) por cada programa realizado no cabaré ou fora dele. No Brasil, a prostituição não é crime, no entanto, é crime a “cafetinagem”, ou como é nominada juridicamente, rufianismo. Neste sentido, nos termos da lei, o cabaré Realeza é um espaço clandestino que exerce uma atividade trabalhista na informalidade. Neste contexto de informalidade e clandestinidade, tenho pensado sobre as estratégias de manutenção do Realeza, o qual transversa este trabalho. No entanto, me interessa aqui as formas de gestão do cabaré, ou melhor, na construção da relação trabalhista entre “proprietário-boys”. Há na dinâmica entre proprietário e boys relações de poder e resistência, na qual por um lado se exerce práticas de disciplinamento e controle, por outro lado, práticas de insubordinação e desobediência. Sobre essas relações, também compreendidas por mim como de desigualdade e exploração, discutirei primeiro o sentimento de “ingratidão” – fruto de dinâmicas de dádiva e cuidado –, a qual tenho percebido como um sentimento explicativo dessas relações trabalhistas, ao dramatizar as relações de poder e hierarquia do estabelecimento. Num segundo momento, discuto as próprias situações narradas pelos boys enquanto “exploração”, “abuso” e “humilhação”, que se desdobram em diferentes práticas de desobediência e insubordinação, as quais são compostas por eventos como de “fuga” e “expulsão” do cabaré. Neste sentido, esta pesquisa evidencia como são narradas e experienciadas algumas dinâmicas de trabalho no cabaré Realeza.