O presente trabalho aborda os processos de esquecimento e memória na etnohistória do povo Tenetehar-Tembé, da Terra Indígena do Alto Rio Guamá, no nordeste paraense- Brasil. Por meio da etnografia engajada assinalada por Pacheco de Oliveira (2020), e da autoetnografia com base em Adams; Ellis e Jones (2017), a liderança Tembé, cacique da aldeia São Pedro, restitui sua própria memória e de seu povo para entender o sentido histórico. O estudo busca entender os dispositivos do poder colonial impetrados pelos Agentes de Postos, no contexto histórico da ação do indigenismo nacional – quando da implantação do Serviço de Proteção ao Índio e da Fundação Nacional do índio-, e as agências Tembé, as quais permitiram, por meio da memória dos mais velhos, a etnohistória. É através das festas-rituais e das narrativas de Mahyra-Yr e Mucura-Yr que o povo Tembé imprime um novo regime contra tutelar para atualizar a memória ancestral e sua própria história. O estudo permitiu ver que a visão assimilacionista do indigenismo nacional possibilitou novos regimes de registro da memória Tembé. E que o fazer histórico para os povos indígenas é tecido em diferentes linguagens e narrativas, as quais são expressas em festas-rituais, pinturas corporais, cantos e danças, confecção de artefatos e artesanatos, pajelança, e tantas outras dimensões culturais. É, portanto, a partir da epistemologia Tembé, tecida no chão da aldeia, em contato com outros seres e agentes, que o processo histórico é restituído, o que possibilita entender que o ensino de história para esse povo ocorre no ato vivido da aldeia e que o fenômeno histórico pode ser narrado em múltiplas linguagens e saberes.