As relações de/entre humanos, não humanos e mais que humanos têm sofrido alterações ao longo dos séculos, ao mesmo tempo em que nunca foram as mesmas para diferentes coletivos coexistentes no tempo e no espaço. No tempo do Antropoceno ou dos mundos arruinados pela ação humana, essas relações têm-se tornado cada vez mais frágeis, colocando em questão a ordem civilizatória ancorada na separação natureza e cultura. Quais são os processos de violência que informam essas relações? Quais são as estratégias de resistência que foram se constituindo ao longo do tempo e nos vários lugares, entre os vários coletivos, paisagens, dispositivos e sujeitos em relação? Como se constituem e se transformam as alianças e os antagonismos entre esses vários coletivos, dispositivos e sujeitos?
A mesa tem como objetivo discutir as resistências e desencontros que ocorrem entre mundos arruinados. A partir a experiências de pesquisa em diversos territórios de América do Sul: o garimpo de ouro na amazônia brasileira, a criação tradicional de animais na cordilheira dos Andes no Chile, a poluição mineira no litoral do sudeste brasileiro e a retomada do vale da Bocaina por famílias tradicionais em Minas Gerais, a mesa contribuirá à discussão teórica e metodológica para conhecer essas pluralidades ontológicas, que permitam ampliar nossas categorias de entendimento desses processos territoriais e vivenciais em curso.
Esses processos não deixam de evidenciar uma composição que separa contrato social e contrato natural, carregando os marcadores de uma certa humanidade que parece incapaz de romper com processos de acúmulos predatórios, desiguais, coloniais, patriarcais, racistas e antropocêntricos. Por outro lado, eles podem indicar que há coletivos que vivem outras cosmologias, ou até mesmo outros mundos, não constituídos por conceitos antípodas, como os de natureza e cultura.