Já é de amplo conhecimento o leque de problemas produzidos pela escolha dos países da América Latina e Caribe pela matriz fundada no extrativismo, e, mais recentemente, no neoextrativismo, utilizando-nos dos termos de M. Svampa. Neste leque, elemento central na gestão de recursos e de pessoas é a violência, em suas diversas formas, revestindo-se de expropriação territorial, destruição ambiental, precarização da vida, ameaças físicas e morais, migrações e/ou deslocamentos massivos, assassinatos, desaparições etc., que andam junto com um discurso oficial a remarcar uma suposta melhoria das condições de vida das populações locais. Este discurso, em geral, acaba por contrapor grupos sociais que compartilham uma situação socioeconômica similar, sem que se atenha, porém, a especificidades étnicas e culturais, que representam modos de ser, viver e fazer pautados por uma íntima relação com rios, mares, flora e fauna e, portanto, de dependência da saúde destes elementos e seus recursos.
A presente proposta visa, a partir de dados etnográficos, incluindo laudos antropológicos, abranger experiências de povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e outros, na América Latina e Caribe (sobretudo, mas não só, partindo do Brasil, Argentina e Colômbia), confrontadas com a necessidade de fazer face a projetos e empreendimentos legais e ilegais (garimpo, mineração), de infraestrutura (construção ou duplicação de rodovias, hidrelétricas, ferrovias, por exemplo), além da agroindústria e exploração imobiliária e para turismo.
Assim, pretendemos abranger uma diversidade de conflitos recentes, territoriais e socioambientais, e as novas configurações sociais daí resultantes. Temos como objetivo impulsionar reflexões, fundamentando o debate sobre os efeitos de ações e políticas geradas a partir destes projetos e empreendimentos, e as diversas formas de violência que geram, mas, por outro lado, intenta-se focar nos efeitos de mão dupla que se produzem, a partir destas ações sobre os povos e comunidades localmente, e seus modos de produzir suas vidas. As diferentes práticas e estratégias de tais coletivos para existir, garantir o respeito a seus direitos, co-existindo e respondendo a tais efeitos, são aspectos pensados como muito relevantes no presente simpósio.
Neste sentido, pensamos alguns sub-eixos que podem servir de norte para as apresentações, que são:
. Extrativismo, neoextrativismo e conflitos;
. Organização sociopolítica dos povos e comunidades locais;
. Impactos sociais e ambientais em terras indígenas e de outros povos e comunidades tradicionais em toda a variedade destes povos e comunidades;
. Migrações e deslocamentos massivos.