As demandas pelo acesso legal à maconha/marihuana (Cannabis Sativa L.) vêm crescendo em muitos países. Essas demandas já vinham sendo organizadas desde a década de 1990, em experiências como os clubes canábicos na Espanha e através das Marchas da Maconha, realizadas anualmente em diversas cidades do mundo. No caso da América Latina foi em princípios do século XXI que começaram a surgir diversos coletivos e associações reunindo ativistas, usuários terapêuticos, familiares, pesquisadores, médicos e juristas para pressionar por mudanças nas normativas vigentes e, especificamente, exigir a regulamentação da “cannabis medicinal” ou para todos os seus usos (recreativo, ritual, etc.). O caso mais emblemático é o Uruguai, que em 2013 passou a ser o primeiro país a criar um regulamento para o uso, produção e distribuição desta substância, controlado pelo Estado.
O objetivo deste Simpósio é dar continuidade à discussão destas mudanças, em suas múltiplas manifestações e contextos etnográficos propondo uma reflexão sobre as práticas destes coletivos e associações, bem como os controles que cercam os usos da maconha e o modo em que o tema se manifesta nos veículos de comunicação de massa, documentários, etc. Serão aceitos trabalhos que discutam (a) a organização de associações canábicas e de coletivos de ativistas e cultivadores e suas formas de fazer política e de construir autoridade e legitimidade, (b) as relações que estabelecem com burocracias e agentes estatais; e (c) a performatividade no espaço público e as estratégias de visibilização das demandas pelo acesso legal da maconha, com foco em etnografias de eventos como as Marchas da Maconha, seminários de caráter científico/político/ativista, e o modo em que o tema se manifesta nos veículos de comunicação de massa, documentários, etc; (d) pesquisas que discutam a produção dessas ações coletivas enquanto “movimento social” canábico e/ou antiproibicionista; (e) os efeitos políticos da exigência por reconhecimento dos ativistas como sujeitos políticos e das demandas em projetos de leis e regulamentações estatais; (f) as perspectivas políticas, cosmologias e ontologias das mobilizações “anti-proibicionista” e “proibicionista”; (g) o modo como as práticas destes coletivos são moldadas pelas modalidades de intervenção das agências de controle penal sobre usuários de maconha e ativistas; e (h) mudanças recentes na regulação dos usos industrias e terapêuticos/medicinais da cannabis (modificações nas formas associativas, práticas e dispositivos do ativismo).