Este Simpósio pretende promover discussões sobre a dimensão epistemológica implicada em uma prática antropológica que articule o fazer poético aos atos de conhecer, descrever, compartilhar e assumir compromissos compartilhados. A proposta é pensar esta problemática emergente da Antropologia a partir de práticas sensíveis como forma de conhecimento, mediada por relações, percursos etnográficos e pela produção de sentidos, mas também por meios de comunicar, estabelecer diálogo e compartilhar com as comunidades, com as quais estabelecemos relações de reciprocidade. A abordagem antropoética é aqui compreendida como constitutiva de um processo de conhecimento permeado por sentidos e sensibilidades e que se dá em meio a campos de forças, relações de poder, conflitos e temas sensíveis. Pensar/agir a partir de uma lógica antropoética é assumir uma posição disruptiva onde o fazer antropológico torna-se meio de encontro, conhecimento e reconhecimento de diversas formas de viver e coabitar o mundo, em sentido ético, estético, político e ecológico. Nessa perspectiva, as imagens visuais, sonoras e do pensamento possuem agência sobre a imaginação e estabelecem ligações entre si, multiplicando as formas de perceber, compreender e experimentar mundos. Acreditamos que a produção de conhecimento ganha em profundidade quando alia a palavra a outras grafias, permitindo que o ato de criar mundos não se encerre com a narrativa antropológica, mas garanta a reserva de um espaço de devir, em conformidade com a vida. Trata-se de uma antropologia que assume a subjetividade e os riscos atinentes à experiência e que se pretende engajada aos processos vitais e às mudanças necessárias para o desenvolvimento de modos de vida dignos, sustentáveis, pautados no respeito à diversidade. Além disso, estas grafias insurgentes, – tais como a fotografia, a colagem, o desenho, o som, a música, o audiovisual, a manipulação digital, o bordado, a instalação, a performance, o grafite/pichação, os motivos gráficos, entre outras formas de expressão e comunicação – representam uma importante forma de transgredir padrões normativos, e podem ser pensadas como meios de descolonizar o imaginário ao colocar no centro das operações intelectuais, narrativas e interpretativas, modos de narrar não-hegemônicos, buscando um engajamento com o mundo e a realização de uma antropologia compartilhada com inspiração roucheana.