A antropologia e os estudos feministas reconhecem, há várias décadas, que o cuidado é culturalmente informado e que a noção de feminilidade e de maternidade implicadas no contexto ocidental são produtos da divisão sexual do trabalho engendrada pelo capitalismo racial. Os estudos contemporâneos sobre as experiências de maternagem revelam que as elaborações a respeito do papel social, político e econômico das mães são variadas e refletem a interseccionalidade de marcadores de raça, classe, gênero, idade, orientação sexual e região. No caso das elaborações oriundas dos estudos latino-americanos, as práticas de cuidado e de maternagem são interpretadas à luz das noções de colonialidade do poder e do gênero, permitindo que outras epistemologias informem as reflexões sobre as mães e as maternidades. Considerando a diversidade das abordagens desses campos teórico-metodológicos, este GT pretende reunir trabalhos de cunho etnográfico que revisem práticas maternas dissidentes e hegemônicas no contexto latino-americano: vividas por mulheres de camadas populares e médias; racializadas de modos diversos; homo ou heterossexuais; e provenientes de comunidades rurais, indígenas e tradicionais ou de contextos urbanos. Da mesma forma, interessam trabalhos que problematizem as diretrizes político-institucionais de diferentes Estados-nação sobre a reprodução social, considerando as múltiplas moralidades e regulamentos do gênero que elas refletem e a forma como configuram a realidade das mães latino-americanas. Esperamos com essa proposta robustecer teoricamente o campo dos estudos sobre maternagens no contexto latino-americano, partindo da premissa de que o assunto conquistou grande notoriedade nas últimas décadas e que tem ocupada distintas escalas na vida social: da casa para a rua; do intimo para o político e legal. Nesse sentido, essas três ideias: reprodução social, cuidado e maternagens servirão de norte para nossa reflexão a partir de lugares e tempos diferentes, assim como seus agenciamentos e novas cristalizações morais. Este GT é a extensão e a continuidade de diálogos travados na XIV Reunião de Antropologia do Mercosul e tem marcado interesse em agregar cada vez mais pesquisadoras/es ao redor do assunto.