Fomos todos tomados de surpresa quando foi enunciado ao mundo, em março de 2020, que uma grave pandemia assolaria toda a humanidade. Medidas de cuidados individuais e coletivos foram regradas pelas instituições de saúde em todos os países atingidos por esta “sindemia”1.
A prática e o ensino de antropologia visual na América Latina, neste tempo, já experimentavam avanços de pesquisa com uso de tecnologias eletrônicas e digitais, o que permitia uma intensa circulação de produções resultantes de pesquisas e de ensino.
Tradicionalmente apoiada na prática da pesquisa de campo presencial, a antropologia audiovisual sofreu os impeditivos e as restrições para o desenvolvimento de pesquisas etnográficas. Da noite para o dia, as universidades fecharam suas portas e os(as) estudantes ficaram impossibilitados de recorrer à metodologia tradicional do convívio direto com seus interlocutores para entrevistas e observações participantes. Assim, a saída para dar continuidade ao calendário previsto de ensino e pesquisa foi recorrer às tecnologias digitais com o recurso de plataformas comunicativas apropriadas; então, a partir desta disponibilidade, cada grupo de pesquisa buscou estratégias de continuidade de pesquisa.
Desde a pandemia de covid-19, cresceu a demanda para desenvolver pesquisas, programas de ensino e inúmeras atividades acadêmicas vinculadas à divulgação e à difusão de resultados de pesquisas, bem como projetos colaborativos e participativos em espaços de movimentos e lutas populares. Geraram-se metodologias e conhecimentos antropológicos originais e solidários.
A construção e o desenvolvimento do campo audiovisual na prática da antropologia contemporânea na América Latina e no Caribe permitiram, em vários casos, ampliar e fortalecer sua capacidade de representar a diversidade humana a partir de uma posição anticolonial, étnica e culturalmente diversa.
Neste e-book visamos a apresentar textos de antropólogos(as) audiovisuais que atuam na América Latina (Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, México e Peru), trazendo as narrativas das experiências de ensino e pesquisa em antropologia audiovisual contemporânea, enfatizando o momento atual e as mudanças acarretadas nesse campo de pesquisa e ensino, as quais são decorrentes da covid-19 e do consequente distanciamento social em tempos de quarentena.
Este debate resulta da consolidação de uma rede de pesquisadores latino-americanos em antropologia audiovisual, a Rede de Pesquisa em Antropología Audiovisual (RIAA).