As coletâneas de textos “clássicos” de Ciências Sociais incluem um conjunto de “pais fundadores”, autores considerados exemplares e reconhecidos como autoridades nessa área do conhecimento. São os autores que geralmente aparecem nos manuais, bibliografias e programas de curso sobre a história das Ciências Sociais: Marx, Weber, Durkheim, Mauss, Malinowski, Lévi-Strauss, Bourdieu, Goffman, Elias etc. Acho equivocado reduzir o fato de eles terem se tornado clássicos à condição de serem todos, sem exceção, homens, europeus ou norte-americanos e brancos. Sem dúvida, a institucionalização das Ciências Sociais foi marcada pelas condições sociais e os privilégios mais gerais das sociedades patriarcais, europeias ou norte-americanas, no seio das quais se desenvolveu. Eles não são, contudo, os únicos autores que podemos e devemos conhecer hoje, se quisermos ter uma visão mais abrangente e diversificada das ciências sociais. Hoje podemos, e devemos, perguntar: onde estão, na tradição das Ciências Sociais, as “mães fundadoras”, ou as autoras e autores não-ocidentais, ou não-brancos? Esta coletânea não é contra o cânone tradicional das Ciências Sociais, nem lhe pretende ser alternativo. Busca, contudo, ir além, incluindo textos de 16 autoras e autores, a grande maioria inéditos no Brasil e aqui traduzidos pela primeira vez para o português. Além de europeus e norte-americanos, temos aqui textos de autoras e autores de Haiti, Índia, Irã, Japão, Turquia e América Latina. O objetivo é ampliar o campo de possibilidades do cânone, sugerindo novas perspectivas para a compreensão da realidade social. Os textos aqui reunidos, bem como suas autoras e autores, devem ser mais lidos e conhecidos. Teremos, assim, Ciências Sociais mais abrangentes, diversas e renovadas. O alargamento do cânone ajudará a estimular a “imaginação sociológica” de que nos fala C. Wright Mills, num texto de 1959: a “capacidade de mudar de uma perspectiva para outra, e, nesse processo, consolidar uma visão adequada de uma sociedade total e de seus componentes”.