Cada vez mais, em seu fazer, o historiador aproxima-se da necessidade de reconhecer a interferência das muitas mídias na compreensão sobre o tempo presente. Os eventos, outrora distantes, se apresentam como ocorrências midiáticas, especialmente com o acelerado crescimento das mídias digitais, onde até mesmo a imprensa tradicional encontra um espaço seu, com formatos que refletem a agilidade dispersa das informações. Ainda não são muitos os estudos que vislumbrem outras visões desse fazer comunicacional ou mesmo que tenham, como objeto, seus silêncios. Contudo, especialmente na América Latina, essa preocupação com uma concepção de comunicação distinta da tradição acadêmica euro-estadunidense tem ganhado espaço. Essa linha de se entender uma Comunicação Decolonial e sua interface com a História torna-se importante para o tema que se propõe aqui: as demandas dos povos indígenas, não apenas do Brasil, conseguem transpor as imensas barreiras da mídia hegemônica? Nossa hipótese é que os silêncios que se tentam impor não calam, totalmente, os ecos das vozes dissonantes. Mas, dificultam sua compreensão.
Desta forma, propõe-se, a partir do resgate de uma temática recentemente discutida no Brasil e que perpassa os interesses de todos os povos indígenas, a questão do Marco Temporal, identificar as estratégias de silenciamento da mídia hegemônica em alguns dos principais jornais tradicionais brasileiros que têm uma atuação bastante ativa nas redes sociais e sua contraposição nos espaços de mídia criados pelos próprios indígenas, também nas redes sociais, que surgem como os veículos de informação e aglutinação de forças. É importante ressaltar que diversos espaços de comunicação foram e ainda vêm sendo criados pelos povos indígenas, no resgate de suas culturas, tradições, problemas específicos e aqueles de caráter mais amplo a todos os povos.
O uso crescente das mídias sociais vem se tornando um grande instrumento de luta, ainda que enfrente esse silenciamento para o grande público por parte da mídia tradicional. Os campos da História e da Ciência Política fazem suas leituras sobre mídia, quase sempre, dentro de uma relação de poder e em torno dos meios de comunicação hegemônicos, diante de sua atuação como atores políticos, interagindo com agentes políticos e influenciando na agenda e no debate público, servido, por outro lado, como canais de acesso às informações dos cidadãos e instrumento de líderes políticos na implementação de seus projetos, assumindo uma centralidade política nas sociedades contemporâneas. Mas é justamente nesse quadro que se insere um dos principais fenômenos presentes na mídia hegemônica que é a invisibilização/silenciamento de vozes dissonantes, em especial, daquelas que afetam interesses políticos.
Esta proposta enquadra-se no próprio propósito do projeto Caminhos de Abya Yala: Intelectuais Indígenas no Continente Americano, que busca pensar o movimento em direção à influência no espaço público que vem sendo feito pelos povos indígenas, em sua relação ao papel que vem sendo ocupado pelos comunicadores indígenas nessas diversas mídias, como intelectuais orgânicos, conforme o pensamento gramsciano ao tratar do jornalismo contra-hegemônico, ao atuarem como porta-vozes das demandas dos povos indígenas, no sentido de promoverem mudanças sociais.