Ponencia

Variações pankararu no agenciamento da forma museu

Parte del Simposio:

SP.70: Memorias insurgentes: relecturas de la historia desde el protagonismo indígena

Ponentes

JOSE M P A ARRUTI

UNICAMP

Desde 1988, os povos indígenas situados no Brasil vêm alterando sua relação com os museus. De uma posição passiva ou reativa, na qual figuravam como objeto de interesse e de apropriação, os povos indígenas passaram progressivamente a uma posição ativa, tomando os museus como seu objeto interesse e criando seus próprios museus. Esta transformação permite avançar sobre a caracterização dos museus como “zonas de contato” (conforme definição de Mary Louise Pratt, retomada por James Clifford) para pensar neles como territórios de ocupação e de luta simbólica. Esta apresentação propõe uma reflexão sobre 3 variações pankararu sobre a “forma museu”, a Casa de Cultura, o Museu-Escola e a Casa de Memória.
Os pankararu se distribuem por 2 Terras Indígenas (TI) contíguas, que somam 14.000 hectares, situadas no estado de Pernambuco, região nordeste do Brasil. Sua localização corresponde ao local em que foi fundado um aldeamento missionário entre o fim do século XVII e início do XVIII. Apesar de nunca terem deixado de ocupar suas terras, no final do século XIX o estado de Pernambuco extinguiu oficialmente o aldeamento por considerar a sua população já misturada à população local, passando a considerá-la cabocla. Cerca de 50 anos depois desse ato, os Pankararu conseguiram voltar a ser reconhecidos como indígenas, mas a experiência de desclassificação – compartilhada com todos os demais povos indígenas da região, que passaram por experiências semelhantes – marcaria definitivamente o grupo e sua relação com a sociedade envolvente.
Hoje os pankararu formam uma população de 9.331 pessoas (IBGE, 2023) que conta com mais de 20 escolas indígenas, integralmente ocupadas por professores, funcionários e gestores indígenas. Essas escolas atendem cerca de 2.500 estudantes de ensino fundamental e médio em ambas as TIs. Há também um grande número de universitários distribuídos por faculdades privadas e públicas principalmente entre as regiões Nordeste, Sudeste e do Distrito Federal, que em boa parte retornam às suas terras depois de formados.
Nossa intenção é explorar como essas “formas museu”, representadas pelo “Centro Cultural da Tapera”, pelo “Museu-Escola” e pela “Casa de Memória Tronco Velho Pankararu” articulam mudanças contextuais mais amplas, com mudanças internas ao povo pankararu: nos seus modos de produção de autoridade moral e política, na articulação com diferentes instâncias de reconhecimento e na adoção de diferentes estratégias de produção cultural.