Os indígenas warao são a segunda maior etnia, e o mais antigo povo, da Venezuela. No último século, os processos colonialistas de seu país os forçaram a migrarem de seus territórios ancestrais para as zonas urbanas da Venezuela. Na última década, eles foram forçados a migrar para o Brasil, estabelecendo-se nas capitais e regiões metropolitanas dos estados e do Distrito Federal. Dentre as capitais, um grupo de cerca de 200 warao estão na cidade de Goiânia e na região metropolitana do estado de Goiás, no cerrado do Brasil central. O contexto de deslocamento dessas comunidades indígenas warao migrantes coloca em risco os seus direitos básicos: à língua, aos saberes, ao território, à memória, ao sentimento, à espiritualidade e às existências. Diante disso, emerge a proposta de Educação Linguística Bilíngue Intercultural para a comunidade warao situada em Goiânia – Goiás. Haja vista que as crianças e jovens warao não se encontram matriculadas(os) no ensino regular devido à insegurança linguística-epistêmica da comunidade, essa não escolarização da infância é aqui entendida como um resguardo das crianças e adolescentes a esse novo mundo – não warao. O objetivo dessa proposta é contribuir com a promoção do letramento em português dos warao, para assim (i) promover a apropriação do português, sem, no entanto, estimular o apagamento e/ou “adormecimento” (Rubim-Kokama, 2020) da língua warao e (ii) incentivar a formação intercultural de uma professora intérprete warao-português. Assim sendo, como aporte teórico temos o “bilinguismo epistêmico” (Pimentel da Silva, 2015; 2019) que é o reconhecimento das diversas línguas em contexto intercultural na construção e compartilhamento de saberes. A opção metodológica assumida consistiu em encontros-vivências de trocas e compartilhamentos de conhecimentos e saberes entre nós, as mães e as crianças e jovens da família warao em contexto plurilíngue – português, warao, espanhol – intercultural nos ambientes da vida cotidiana da comunidade que se encontra em Goiânia. Bem como, adotamos o “conflito linguístico-epistêmico” (Hamel, 1984; 1988; Krenak, 2021; Barbosa-Silva, 2021), considerado como sendo o conflito existente nas diversas cosmopercepções de mundos existentes devido ao contexto de diversidade linguística.