Com este trabalho busco refletir sobre as mais diversas formas de sociabilidade urbana vivenciadas pelas Torcidas Organizadas de futebol na contemporaneidade, sobretudo na cidade de São Paulo (Brasil), onde também atuam como Escolas de Samba no carnaval oficial da metrópole. Na pesquisa etnográfica de doutorado ainda em andamento (FAPESP, processo: 2022/14384-4), tomo como recorte a análise comparativa de três torcidas/escolas: Os Gaviões da Fiel e a Camisa 12, associadas afetivamente ao Sport Club Corinthians Paulista; e a Mancha Verde, atrelada a Sociedade Esportiva Palmeiras. Com o objetivo de vivenciar as Torcidas Organizadas para além da classificação já datada de pertencimento clubístico, ou seja, de uma existência única em prol do torcer para seus clubes e rivalizar com torcedores de times rivais, tenho explorado a experiência dos torcedores no samba de espetáculo da cidade, buscando com isso demonstrar a complexidade contemporânea desses coletivos que negociam e disputam suas práticas de sociabilidade entre futebol e carnaval, entre ser Torcida Organizada e Escola de Samba. Ao se tratar de um ambiente amplamente subjetivo, estético e performático, tenho me amparado em uma etnografia multissensorial que visa perceber os múltiplos sentidos em campo para além da descrição meramente objetiva, e com isso tenho vivenciado uma relação constante do fazer etnográfico experimental entre as antropologias urbana e audiovisual. Através desse exercício antropoético, isto é, de um fazer antropológico que se propõe inventivo por se ater mais ao sensível do que a razão objetiva, tenho aproveitado metodologicamente de minha dupla aptidão enquanto antropólogo e também fotógrafo profissional nas periferias da cidade. A partir disso tenho utilizado dos mais diversos recursos audiovisuais e fotográficos, para além da mera descrição interpretativa e distante, e experienciando essa ecologia entre torcer e sambar no próprio corpo que etnografa, a fim de demonstrar com isso como a sensibilidade das expressões urbanas nessa atmosfera tem acontecido em meio às mais diversas formas de experimentação dessa sociabilidade, constantemente imbricada entre duas práticas culturais idealmente próximas mas que também se rivalizam enquanto projetos políticos entre ser uma coisa (Torcida) e outra (Escola). Tal experiência etnográfica tem me permitido acessar outras vivências dos torcedores para além do futebol, assim como me demandado outras maneiras inventivas de lidar com a produção antropológica desse conhecimento tão sensível, sonoro e visual. Afinal, como narrar as vivências estéticas e sensoriais dos interlocutores – e também do antropólogo / fotógrafo -, nas arquibancadas do futebol e nas avenidas do samba, senão extrapolando para além da descrição textual?