Ponencia

Uma contação de história etnográfica: o boi de mamão em cena.

Parte del Simposio:

SP.62: Antropoéticas: As grafias enquanto gesto político, ético e poético.

Ponentes

Guilherme Laus

UFSC

O boi de mamão é uma brincadeira popular tradicional do litoral sul do brasil, sobretudo na capital catarinense, Florianópolis, na qual dezenas de grupos regionais desenvolvem a brincadeira há décadas. Em suma, o folguedo apresenta a história de um boi que morre, por razões variadas, e ressuscita após investidas de seu dono, o vaqueiro; após a ressurreição, geralmente consequência de esforços de uma “benzedeira popular”, diversos animais e personagens vêm à brincadeira para festejar, como cabras, cavalos, ursos e monstros fantásticos. Neste trabalho, coloco em foco não as performances e danças desses personagens – o que tem sido meu foco no processo de mestrado -, mas sim a experiência que tive de apresentar uma performance junto de um artista, brincante e também pesquisador do boi, Charles. Nessa experiência, apresentada em um Colóquio na UFSC, chocamos uma história “infantil” oralizada por um mestre da brincadeira sobre o nascimento do boi de mamão com trechos de textos etnográficos que tenho escrito a partir do campo com os bois florianopolitanos. Entre a história “mitológica” da brincadeira, danças, movimentos, gestos e técnicas eram apresentados enquanto textos etnográficos sugeriam uma concepção interrompida de narrativa; ao mesmo tempo, o esforço etnográfico de descrever relações e produções outras se mantém. Nesse sentido, antes do próprio boi em si, minha intenção é textualizar a potência do diálogo entre a linguagem etnográfica da antropologia com a contação de histórias, como também a complexidade do que um “mito de criação” pode nos oferecer na antropologia, enquanto um conceito clássico que pode tomar lugar como uma “alegoria descritiva”. A antropologia conta histórias? Os conceitos de “mito” e “origem” continuam tendo serventia? Por fim, espero apresentar um texto que vá ao encontro não apenas do diálogo entre antropologia e dança, mas também de uma incorporação em cena de uma etnografia não tanto “da” mas “em” performance.