Neste trabalho analiso como foram as transmissões de dois canais de televisão e alguns canais do YouTube, especializados em esportes, nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, realizados em 2021. A partir desta análise, discuto como estas transmissões permitiram a construção de interpretações sobre os contextos em que a sociedade brasileira estava atravessando no momento em que estes eventos foram realizados. Para isto, estabelecendo um olhar comparativo com edições anteriores destes Jogos, que já foram objeto de minhas análises em outros artigos, desenvolvo aqui minha interpretação de como estas transmissões foram impactadas pela realização destas competições em plena vigência de restrições sanitárias por conta da pandemia da COVID-19, que impactou todo o planeta. Esta pandemia, inclusive, foi a responsável pelo fato de que, pela primeira vez na história, a realização dos Jogos tenha sido adiada, deslocando-se do ano de 2020 para 2021, quando – embora ainda sob diversos cuidados e sofrendo uma infinidade de críticas – foram finalmente realizados. Embora este seja um megaevento esportivo de caráter planetário e a própria pandemia de COVID-19 tenha igualmente afetado todas as nações do mundo, o que irei refletir aqui é que estes eventos refletem este contexto de forma diferenciada, a partir da realidade específica de cada país. Assim, minha interpretação é que as transmissões destes Jogos Olímpicos e Paralímpicos pelos canais de esporte brasileiros, aqui analisados, podem também ajudar a entender as discussões sobre a ciência e os discursos negacionistas que atravessavam a sociedade brasileira naquele período. Com este objetivo, este artigo será estruturado, para além de uma apresentação, em duas partes. Na primeira parte, de cunho mais teórico, dialogarei com os conceitos de “campo esportivo”, de Pierre Bourdieu, “de zona livre”, de Eduardo Archetti e de “instituição zero”, de Simoni Guedes, bem como com a teoria contextualista das emoções, de Lila Abu-Lughod e Catherine Lutz, que irei adaptar para analisar os contextos das transmissões esportivas, indicando aqui também as possibilidades de uso destas transmissões como um “campo”, no sentido antropológico do termo. Na segunda parte irei apresentar os dados construídos durante toda a observação realizada durante estas transmissões dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, bem como as interpretações que realizo a partir destes dados, à luz da teoria previamente apresentada. Por fim, as principais conclusões deste trabalho serão indicadas nas considerações finais.