Ponencia

Um fio de resistência: poéticas têxteis no Quilombo do Gurutuba

Parte del Simposio:

SP.33: Antropología de la técnica: conocimiento, poder y desigualdad en el saber hacer con materiales, máquinas y organismos

Ponentes

Juliano Arruda Silveira

Unimontes

Felisa Cançado Anaya

Andrea Maria Narciso Rocha de Paula

Unimontes

Essa pesquisa faz parte da tese de doutoramento, em andamento, no programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Social, na Universidade Estadual de Montes Claros-Brasil. Tem como objetivo analisar o saber-fazer têxtil das fiandeiras e tecelãs do Quilombo do Gurutuba, comunidades localizadas em 07 municípios da bacia média do rio São Francisco, no norte do estado de Minas Gerais. Nos interessa etnografar as técnicas tradicionais utilizadas pelas mulheres presentificadas na memória das anciãs e sua relação com a diáspora africana. Para compreender o saber-fazer têxtil das mulheres negras aquilombadas do Gurutuba, foi realizada uma pesquisa sobre os processos têxteis no Ocidente, incluindo a história do algodão, a Revolução Industrial e seus desdobramentos e o comércio de negros escravizados africanos. A investigação bibliográfica foi realizada também em visitas a arquivos públicos e museus em Portugal e Inglaterra. Estamos desenvolvendo o trabalho de campo etnográfico com registro fotográfico e entrevistas livres. Durante o ano de 2023 foi registrada a tradição do fiar e tecer junto as mulheres quilombolas dos núcleos de Malhada Grande e São Sebastião do Quilombo. Observamos que a memória e o saber-fazer dos quilombolas remetem a um período de aproximadamente 120 anos de artes têxteis no Gurutuba. Uma tradição de técnicas têxteis que articulam saberes tradicionais, cosmogonias e tecelagem. A tecelagem acontece com os teares montados nos quintais, próximos às casas, em um espaço chamado de ‘terreiro’, estabelecendo entre as mulheres e seu ‘tear’, redes de contato entre os familiares, com demais membros das comunidades e com o ambiente. Os resultados parciais apontam para estreitas relações entre o saber-fazer têxtil e o uso das técnicas locais do Quilombo do Gurutuba com alguns países da África Ocidental. As formas de manusear o tear, as formas de compor as tramas do algodão no fazer das peças, as estórias e histórias compartilhadas, as cantigas e músicas acionadas no ato do saber-fazer, são parte da composição do ser quilombola do Gurutuba. Todos esses pontos constituem parte da memória do grupo, permitindo a manutenção de laços afetivos, identitários e culturais do grupo étnico que é o Quilombo do Gurutuba.