Esta pesquisa objetiva analisar as recentes transformações de paisagem de uma das regiões de lazer mais conhecidas da cidade de São Paulo (Brasil), o Baixo Augusta. Esta região abarca a porção baixa da rua
Augusta e seus arredores, e é caracterizada e nomeada por sua proximidade com o centro da cidade. O
recorte temporal da pesquisa tem como marco a suposta fase de “revitalização” da rua, ocorrida em meados
da década de 2000, quando a Augusta, antes vista como “degradada”, passa a ser um espaço urbano
“descolado” e “alternativo”, marcado pela ideia da “diversidade”, palavra-chave de um discurso que refletiria
a “aura” dessa via paulista, enunciado por uma série de atores. Na esteira desse processo, seguiu-se um
boom imobiliário, que rasgou verticalmente a paisagem dessa região paulistana, com uma série de novas e
modernas torres residenciais e comerciais, que contrastam com sua antiga e horizontal arquitetura. Tais
mudanças são interpretadas pela mídia e por estudiosos com um caso de gentrification (enobrecimento), não
obstante, por meio de uma análise mais aprofundada do caso de estudo, argumentamos que as
transformações do Baixo Augusta resistem ao enquadramento a esse modelo teórico. Assim, os processos
ocorridos na região são tratados como transformações de paisagem. Por sua polissemia e atuais usos nas
Ciências Sociais, o conceito de paisagem revela um potencial teórico que permite análises mais amplas e
globais de eventos transformadores do espaço urbano. Combinado à pesquisa de campo, técnicas de
mapeamento e a realização de entrevistas com frequentadores(as) do Baixo Augusta, esta abordagem
possibilita a identificação de um embate na produção da paisagem da região, marcado pela atuação e pelo
discurso de três principais atores: a mídia, o mercado imobiliário e os(as) frequentadores(as).