Ponencia

Tradições, protagonismo, qualidade de vida e Saúde Coletiva em comunidades quilombolas: um estudo de caso, no Maranhão, Brasil

Parte del Simposio:

SP.3: Después de la COVID-19: urgencias, desigualdades y desafíos en América Latina y el Caribe

Ponentes

István van Deursen Varga

Universidade Federal do Maranhão/Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

István van Deursen Varga

Universidade Federal do Maranhão/Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Raimundo Luís Silva Cardoso

Maria Alice Pires Oliveira Van Deursen

O objetivo deste trabalho é de, enfocando o papel da tradição da pajelança em uma comunidade quilombola na Amazônia Maranhense, como articuladora e compatibilizadora entre diversos sistemas, saberes e práticas de saúde a que essa comunidade recorre e/ou tem acesso, propor uma reflexão mais ampla sobre as possíveis (e recomendáveis) interlocuções da medicina acadêmica oficial e do SUS com as demais tradições culturais, espirituais e práticas de saúde de comunidades tradicionais. Trata-se de estudo etnográfico, resultante de uma síntese dos achados de vários projetos de extensão e pesquisa, desenvolvidos em Embiral-Cabeça Branca, no município de Pedro do Rosário/MA, no período de 2015 a 2023. Corremos o risco, no campo da Saúde Coletiva, como efeito da reação a esse negacionismo vigente na política de saúde do governo Bolsonaro, da reedição e da reificação desinteligente de uma oposição entre o saber considerado “científico”, porque produzido e legitimado no ambiente e na cultura acadêmica, e os saberes não-acadêmicos, que poderiam voltar a ser rotulados — e execrados — como não-“científicos”.
Se a evidência dos gigantescos impactos da pandemia de COVID-19, e os igualmente enormes esforços e movimentos empreendidos para seu controle, impõem o reconhecimento global da necessidade de uma base epistemológica e tecnológica consensuada, fundamentadas nas pesquisas e ciências acadêmicas, para a definição de políticas públicas para seu controle (caso das vacinas e das demais medidas não-medicamentosas de prevenção), como pesquisadores e militantes do campo da Saúde Coletiva, não podemos ceder à ilusão de que este fato se constitua, em si mesmo, num unificador de pensamentos, e/ou no legitimador de um neoiluminismo sanitarista triunfante — nem ceder à tentação de tentar realizá-lo.
Se o iluminismo pode ser definido como uma corrente de pensamento, ou como uma filosofia, que foi baseada no princípio do uso da razão como forma de pensar o mundo, também é necessário reconhecer que:
• partia do pressuposto de que esta mesma razão é inerente a todos os seres humanos;
• que se tratava de uma filosofia eminentemente antropocêntrica;
• que se tratava de uma filosofia histórica, social e culturalmente condicionada e limitada;
• que se tratava de uma filosofia também geograficamente localizada, condicionada e limitada.
Entendemos que a diversidade de perspectivas epistemológicas é constituinte basilar do campo da Saúde Coletiva, e que a necessidade de definir estratégias globais para o enfrentamento coordenado de situações, como as pandemias, não pode anular o reconhecimento da pluralidade de luzes, perspectivas e saberes culturais específicos e “territoriados” (como diria nosso pajé) sobre o objeto saúde.