A pesquisa aqui apresentada busca avançar no esforço de conhecer melhor as novas classes trabalhadoras brasileiras no contexto da economia de plataformas que marca as primeiras décadas do século XXI. Seu principal objetivo é compreender práticas e percepções de trabalhadores e trabalhadoras que exercem modalidades de trabalho não assalariado, incluindo formas de trabalho por conta própria, informal e autônomo. Busca-se, assim, entender como trabalhadores percebem a evolução das condições de trabalho e de vida nos últimos anos, como forjam suas percepções políticas, como a internet e as redes sociais, em especial, colaboram para moldar suas experiências e visões de mundo. A pesquisa procura entender, ainda, quais são as perspectivas destes trabalhadores em relação ao futuro, de quais estratégias individuais de sobrevivência lançam mão e quais são as novas formas de organização coletiva que emergem no contexto atual. A investigação se desdobra a partir de um material de campo acumulado ao longo de aproximadamente uma década de pesquisa etnográfica entre trabalhadores sem vínculo empregatício atuantes em diversos segmentos, dentre os quais os setores de eventos, transportes, beleza, limpeza doméstica e alimentação. Os dados empíricos foram produzidos através da utilização de técnicas de pesquisa diversas, incluindo observação participante, entrevistas em profundidade, acompanhamento sistemático de redes sociais e realização de grupos focais. A investigação toma como eixo as transformações sociais em curso nos últimos anos como decorrência da disseminação de plataformas digitais – tanto aquelas que envolvem uma relação de contrato triangular entre trabalhadores, plataformas e clientes, como as redes sociais. A pesquisa focaliza, em especial, as mudanças que tecnologias digitais provocam no trabalho e sua imbricação com subjetividades políticas de trabalhadores. A análise dos dados procura observar, ainda, como as transformações recentes no mundo do trabalho se relacionam com o papel do Estado e o modo como os trabalhadores interagem com sistemas políticos.