Partindo de um interesse em articular discussões entre o campo da arte e da antropologia, esta pesquisa nasce do desejo de compreender como a produção imagética da multiartista e cineasta Maya Deren constrói narrativas etnográficas através de sua aproximação com o fazer artístico. Busco explorar o movimento corporal feito para câmera, na construção de narrativas por meio de um corpo que dança e do aparato técnico que o registra. Junto disso, compreender as intencionalidades articuladas pela artista, na gravação de rituais e a importância que o estudo da técnica e da forma no filme, tiveram para seus registros. Meu objeto de análise é o documentário Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti, resultado de seu trabalho etnográfico realizado sobre o vodu no Haiti entre 1947 e 1954. Para isso, além da análise do filme, levei em consideração um livro de título homônimo publicado por ela (1953). Identificando elementos imagéticos e textuais acionados por Maya Deren na apresentação do vodu haitiano imbricado por uma cosmovisão imagética, centrada na performance que se expressa através do ritualístico e do processual. Investigo também, seus diários pessoais de estudo fílmico sobre a produção visual antropológica de Margaret Mead e Gregory Bateson, Balinese Character, estudando este material e a gravação do movimento ritualístico. Incluindo, também, seus textos teóricos sobre arte e cinematografia. A análise de seus acionamentos técnicos foi realizada através do exercício de decupagem do documentário e de outros filmes experimentais de sua autoria. Como resultado deste trabalho, foi possível ministrar uma oficina de análise de imagem oferecida pelo NAVISUAL/UFRGS e apresentada também na XIV RAM. Elaborar uma resenha sobre o livro antes citado e textos que irão se desdobrar como trabalho de conclusão do curso de ciências sociais delineando uma reflexão crítica sobre a dialética entre a posição de Deren como precursora do cinema experimental em contrapartida a sua diferente recepção no campo da antropologia visual e da performance. Trazendo à luz algumas de suas contribuições experimentais etnográficas que posteriormente passaram a ser reconhecidas por trabalhos visual-antropológicos de Jean Rouch e seu conceito de cinetranse (como Deren tensiona o momento de possessão durante um ritual e a possibilidade de capturação do invisível) e a ideia de câmera como extensão do corpo, de David Macdougall e posteriormente Grimshaw (2015).