Trata-se de uma pesquisa etnográfica sobre o mundo do rap carioca. Atualmente existe um conflito geracional que divide este mundo da arte. Este conflito pode ser ilustrado através da dicotomia entre boombap (velha escola) e trap (new wave). Esses diferentes estilos de fazer(viver) o(do) rap engendram distintas formas de vida que, embora conflitantes entre si, são coerentes com este mundo da música e com a cultura HipHop. Através da observação participante, da produção e coleta de material iconográfico e da realização de entrevistas semiestruturadas com interlocutores privilegiados; o objetivo central desta pesquisa é compreender como esse conflito latente altera diretamente as relações sociais e materiais neste mundo da arte; bem como alteram a noção de subjetividade e biografia dos indivíduos em diferentes níveis de complexidade. Neste contexto, o trap surge como um subgênero (desdobramento) do rap sem promover uma ruptura total com sua base epistemológica. Para além de mudanças no objeto sonoro, o trap propõe um afastamento de fundamentos tradicionais estabelecidos pela primeira geração de artistas, como por exemplo, a tarefa social de educar através da música, sobretudo com relação a problemas como a desigualdade social e o racismo estrutural da sociedade brasileira. Na nova geração verificamos, com efeito, a preeminência de valores comerciais com relação a música e seu potencial de alcance a uma audiência cada vez maior, algo que por si só já estabelece animosidade entre os interlocutores de diferentes gerações. A hipótese central é que essas mudanças no objeto sonoro estão direta e indiretamente ligadas a mudanças em diferentes esferas da sociedade como na política, nas relações de trabalho e na religião. Sendo assim, iniciar uma carreira no rap é uma atividade que extrapola a produção musical; torna-se um campo de disputa ideológica e de construção de narrativas sobre a experiência de viver na sociedade em que vivemos hoje.