Ponencia

“Só sobrou o esqueleto”: o que a história de uma favela removida nos ensina sobre a produção de desigualdades e injustiças na cidade do Rio de Janeiro?

Parte del Simposio:

SP.39: Etnografías de la/en la vida urbana: territorios, espacios públicos y vulnerabilidades sociales

Ponentes

Leticia de Luna Freire

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados de uma pesquisa em curso sobre uma favela extinta nos anos 1960 para dar lugar à construção do campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A Favela do Esqueleto surgiu nos anos 1930 a partir da ocupação da área em torno da estrutura inacabada do que seria um hospital. Três décadas depois, chegou a ter doze mil habitantes, sendo uma das dezenas de favelas extintas na cidade durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Embora haja uma extensa bibliografia nas ciências sociais sobre a política de remoção de favelas no Rio de Janeiro – capital do país entre 1763 e 1960 – quase não há estudos que abordam esse assentamento popular, tampouco existem registros no atual campus universitário que evoquem sua memória. Assim, nossa pesquisa pretende contar a história da Favela do Esqueleto a partir das lembranças e narrativas de seus ex-moradores, hoje dispersos por toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por meio de entrevistas com doze ex-moradores, buscamos realizar uma etnografia retrospectiva, a fim de reconstituir os fluxos migratórios das famílias, as dinâmicas da vida cotidiana, os processos de socialização, as interações da favela com o restante da cidade, os conflitos sociais e as aspirações daqueles que, em diferentes períodos, viveram e ajudaram a construir aquele lugar, antes que outros viessem destruí-lo e apagá-lo. Da favela “só sobrou o “esqueleto”, referem-se os ex-moradores ao primeiro prédio do campus, construído a partir da recuperação da estrutura do antigo hospital. De uma vida de dificuldades, mas pulsante e rica em oportunidades de trabalho e lazer em uma área central, suas narrativas permitem-nos compreender melhor um capítulo da história urbana do Rio de Janeiro e o processo de produção de desigualdades, injustiças e negação de direitos de cidadania aos mais vulneráveis, assim como suas críticas e resistências.