Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados de uma pesquisa em curso sobre uma favela extinta nos anos 1960 para dar lugar à construção do campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A Favela do Esqueleto surgiu nos anos 1930 a partir da ocupação da área em torno da estrutura inacabada do que seria um hospital. Três décadas depois, chegou a ter doze mil habitantes, sendo uma das dezenas de favelas extintas na cidade durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Embora haja uma extensa bibliografia nas ciências sociais sobre a política de remoção de favelas no Rio de Janeiro – capital do país entre 1763 e 1960 – quase não há estudos que abordam esse assentamento popular, tampouco existem registros no atual campus universitário que evoquem sua memória. Assim, nossa pesquisa pretende contar a história da Favela do Esqueleto a partir das lembranças e narrativas de seus ex-moradores, hoje dispersos por toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por meio de entrevistas com doze ex-moradores, buscamos realizar uma etnografia retrospectiva, a fim de reconstituir os fluxos migratórios das famílias, as dinâmicas da vida cotidiana, os processos de socialização, as interações da favela com o restante da cidade, os conflitos sociais e as aspirações daqueles que, em diferentes períodos, viveram e ajudaram a construir aquele lugar, antes que outros viessem destruí-lo e apagá-lo. Da favela “só sobrou o “esqueleto”, referem-se os ex-moradores ao primeiro prédio do campus, construído a partir da recuperação da estrutura do antigo hospital. De uma vida de dificuldades, mas pulsante e rica em oportunidades de trabalho e lazer em uma área central, suas narrativas permitem-nos compreender melhor um capítulo da história urbana do Rio de Janeiro e o processo de produção de desigualdades, injustiças e negação de direitos de cidadania aos mais vulneráveis, assim como suas críticas e resistências.