Este trabalho busca, por meio da etnografia, compreender as articulações entre o Estado e os agentes religiosos que vem ocupando os espaços públicos da cidade e do estado do Rio de janeiro. Assim, a chamada dessa reflexão, por meio do título do trabalho, faz referências a um fragmento de ponto/música comumente cantada nos centros de umbandas e nas giras de Exu para invocar o Exu Tranca-rua. Aqui, nesse trabalho, recorro a esse ponto para apresentar questões referentes ao campo, ao interlocutores, e para identificar a presença, os diálogos e as negociações dos agentes com o Estado para realizar giras de exus nas ruas, praças e parques da cidade e estado do Rio de Janeiro. Delimito como trabalho etnográfico as giras de exus que acontecem em dois locais principais: o Santuário de Zé Pilintra no Bairro da Lapa e no centro do Rio de Janeiro e o evento Farofa com Dendê, que acontece no Parque de Madureira, situado em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro. Essa pesquisa contou com entrevista realizada com o diretor institucional e produtor cultural do Santuário de Zé Pilintra, Diego Gomes, para sabermos como funciona a administração do Santuário e qual a relação da instituição com a prefeitura e as instâncias administrativas do bairro da Lapa, com observação participante das giras, a fim de compreender as dinâmicas do ritual em contexto urbano para dar contas dos processos de continuidade e ruptura com os rituais da umbanda e do candomblé. Aqui adoto uma relação de parceria com meus interlocutores, por acreditar que essa investigação só ser torna possível por meio das parcerias que são desenvolvidas no campo, logo, todos que aqui aparecerem são considerados parceiro dessa escrita. “Seu Tranca-rua, dono da gira no meio da rua” é usado para pensar a ocupação do espaço público pelas giras de exu e para demarcar território, onde Tranca-rua é o povo, povo de rua – os exus e o povo da rua –, os moradores em situação de rua, muito presentes nesses rituais. Assim, a pretensão é perceber como o Estado aparece nas falas dos agentes e nas cantigas que invocam as entidades, como é a relação entre as lideranças das giras e os aparelho administrativos. Até o determinado momento, tem-se percebido no Estado um comportamento de caráter blasé, sem intervenções diretas que contribuam ou proíba o acontecimento das giras, mas, no caso da polícia, enquanto braço do Estado, a roda é efetiva e a relação é dúbia entre proteção e ameaça. Os agentes organizam e atuam nos rituais de forma orgânica, mas ciente de que a qualquer momento podem ser atravessados de forma positiva, uma vez que esse tipo de ritual e o Santuário de Zé Pilintra têm modificado significativamente o cenário do local, tanto nos aspectos turísticos, culturais e arquitetônicos do bairro. Ou de forma negativa, com repressão e ou até proibições do ritual, como tem historicamente ocorrido as religiões de matriz afro-brasileiras no país.