Ponencia

Resistência, reivindicação, prefiguração: imaginação radical como forma de luta por justiça social

Parte del Simposio:

SP.19: Interrogando la política y las políticas desde abordajes etnográficos. Desafíos para la construcción de conocimiento antropológico

Ponentes

Stella Paterniani

Unicamp

Brazil (Brasil)

Ao longo de meus anos de pesquisa com pessoas, famílias e movimentos de luta por moradia em ocupações na cidade de São Paulo, percebi que a política lá realizada não se constitui apenas como resistência (a processos de gentrificação, higienização, remoção, expulsão de certos corpos do centro da cidade), tampouco somente reivindicação de política pública perante o Estado (produção de Habitação de Interesse Social para trabalhadores). O léxico resistência-reivindicação não permite escapar da orientação hegemônica de uma cidade orientada pela lógica do capital e da branquidade: a categoria resistência pressupõe tal lógica como orientadora da feitura da cidade e da produção de conhecimento analítico; uma suposta política pública reivindicada pelos movimentos exclui da possibilidade de se tornar beneficiário da política pública boa parte das pessoas que compõem tais movimentos de luta. Para escapar desses aprisionamentos conceituais, tenho trabalhado com a dimensão da prefiguração: as famílias já vivem, em alguma medida, do modo como acreditam que deveriam e gostariam de viver, isto é, naquele local, compartilhando o cuidado com as crianças, cultivando hortas, fazendo reparos hidráulicos e elétricos no prédio, organizando festas, visitando amizades em outras ocupações. Nesta comunicação, pretendo explorar as contribuições das ideias de incompletude e do par menos-que-humanos e humanidade na análise de movimentos por luta por moradia e das ocupações de prédios em regiões centrais de grandes cidades do Sul Global. Proponho entender a luta por moradia digna como a luta por uma produção de humanidade que opera na recusa do confinamento de certos corpos à condição menos-que-humana, e na vinculação das três dimensões da política – como resistência, reivindicação e prefiguração – por meio da fabulação crítica e da imaginação radical, que exige que abandonemos certos aprisionamentos analíticos, como propõe este ST. Buscarei demonstrar etnograficamente, por meio do compartilhamento de processos de pesquisa na cidade de São Paulo (Brasil) e Cidade do Cabo (África do Sul).