Ponencia

Reforma agrária em terras de usina: uma análise antropológica a partir do caso da usina Santa Maria, no Nordeste do Brasil

Parte del Simposio:

SP.16: Antropologías rurales en Latinoamérica y El Caribe: desarrollo, articulación y proyecciones en contextos urgentes de privilegios y desigualdades

Ponentes

PATRICIA ALVES RAMIRO

Universidade Federal da Paraíba UFPB

Vilma Pires Bernardo

Universidade Federal da Paraíba

Caterine Soffiati

Neste trabalho apresentaremos as reconfigurações sociais que ocorreram na vida de ex-trabalhadores(as) de uma usina no Nordeste do Brasil em decorrência da desapropriação de terras da extinta usina sucroalcooleira, após sua falência no ano de 1992, quando passam a ocupar a posição de assentados(as) rurais de área de reforma agrária. Tal população compunha parte dos moradores em propriedades da usina Santa Maria, na região do Brejo estado da Paraíba, categoria social nativa que ocupava a posição inferior na estrutura da hierarquia social açucareira no Nordeste brasileiro, surgida do ato de pedir morada a algum senhor de engenho como possibilidade de garantir uma casa e o sustento e usufruto de pequena parcela de terra, chamados de roçados e sítios, última possibilidade para muitos de fugir da situação de miséria material, tendo o trabalho nas plantations como contrapartida, Quatrocentas e vinte famílias tornaram-se titulares de lotes numa área total de, aproximadamente, 4.031hectares distribuídas nos municípios de Areia, Pilões, Serraria e Alagoinha a partir de 1997. Através de etnografias realizadas na região, mostraremos parte das transformações vividas por essas famílias que saem de uma situação de dominação personalizada, para usarmos expressão de Garcia Jr. (1989), para a de agricultores(as) familiares “livres”, mas que, ao mesmo tempo, precisam recompor sua maneira de pensar o mundo em que vivem no momento em que tornaram-se, entre outras coisas, responsáveis pelo planejamento e organização de sua vida financeira, religiosa, política e cultural. Reconversão social que, apesar de mobilidade social ascendente, traz desafios intensos para essas famílias e sua recolocação no espaço social rural da região, que também se transforma abruptamente nas camadas superiores, que se veem sem a usina como principal compradora da lavoura canavieira que ocupava praticamente toda área cultivada na região, especialmente, nas duas décadas anteriores à falência, quando os subsídios e créditos públicos eram parte da política governamental da ditadura militar brasileira.