Ponencia

Redescobrindo museus com o povo indígena Ka’apor: Diálogos e experiências interculturais.

Parte del Simposio:

SP.56: Antropología en/desde/de los museos: perspectivas críticas, transformaciones y desafíos

Ponentes

Claudia Leonor López Garcés

Museo Paraense Emilio Goeldi

Mariana Françozo

Caroline Fernandes Caromano

Naturalis Biodiversity Center

A partir dos diálogos e experiências de pesquisa em colaboração com o povo indígena Ka’apor realizados no Museu paraense Emílio Goeldi (Brasil), em agosto de 2022, e nos Museus Naturalis e Nacional de Etnologia (Países Baixos), em junho de 2023, no contexto do projeto de pesquisa ERC Starting Grant – BRASILIAE: O Conhecimento Indígena na Construção da Ciência: Historia Naturalis Brasiliae (1648), pretendemos refletir sobre os diversos entendimentos dos museus como espaços de conhecimento, representação e salvaguarda da diversidade biológica e sociocultural.
O povo indígena Ka’apor, falante de uma língua do tronco Tupi, família Tupi Guarani, com o qual realizamos iniciativas de pesquisa antropológica em colaboração, desde há pelo menos dez anos, habita na Terra Indígena Alto Turiaçu, na Amazônia brasileira, compartindo o território com outros povos indígenas como os Tembé-Tenetehar e Awa-Guajá, também falantes de línguas tupi. Estes povos indígenas vêm enfrentando juntos as consequências das invasões causadas pela extração ilegal de madeira, o que tem desembocado em mortes violentas de indígenas engajados na defesa dos seus territórios. Para enfrentar estas situações de violência os indígenas têm criado alianças interétnicas de proteção territorial, iniciativas que se tornam imprescindíveis para a salvaguarda do território, da floresta e da vida.
As experiências de “redescobrir” museus no Brasil e nos Países Baixos, junto com autoridades indígenas do povo Ka’apor, estimularam exercícios de memória e reflexões sobre o conhecimento ka’apor (Ukwaha mupitaha) e o conhecimento ocidental. Deste encontro entre formas de criar e transmitir conhecimentos nos dois contextos socioculturais, destacou-se o entendimento ka’apor do território indígena e da floresta como um “museu vivo”, como lugar que possibilita aos indígenas reproduzir e “guardar” seu conhecimento, argumento que reforça a importância da proteção do território e da floresta para preservar o conhecimento indígena e a vida.
Partindo destas experiências buscamos articular uma reflexão em torno dos museus como espaços que propiciam diálogos interculturais, considerando as condições em que estas relações têm se dado e buscando avançar nas transformações das desigualdades como alternativa para construir um conhecimento de caráter intercultural.