Esta comunicação parte de um recorte de uma dissertação de mestrado em Antropologia Social dedicada à colocação de nome em nascidos e as práticas de registro burocrático de nascimento operada pelos Cartórios no Brasil. No percurso de investigação etnográfica, as categorias “cidadão” e “cidadania” eram acionadas pelos meus interlocutores para explicar a necessidade – e obrigatoriedade – da produção burocrática de papéis. Acompanhando ações da Semana Nacional de Registro Civil – maio de 2023, centro do Rio de Janeiro – e vendo dezenas de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como as pessoas em situação de rua, solicitando segundas vias ou o registro tardio, questionei-me como estas pessoas habitavam um limite entre ser e não ser cidadão. Estamos nos referindo a um grupo majoritário de homens e mulheres negros; entre os homens encontra-se jovens, adultos e idosos, mas entre as mulheres, enquanto me dediquei à observação, a maioria era adulta e idosa. Apenas a partir da produção e guarda do documento de registro civil, primordialmente o registro civil de nascimento, que seria possível pleitear tal categoria – cidadã/cidadão. Tal caso nos mostra um modo de organização do Estado, suas instituições e agentes, bem como quem e como se pode ser cidadão no Brasil e ter a possibilidade de acessar serviços públicos, como educação e saúde, programas sociais e o gozo dos direitos políticos. A Semana Nacional de Registro Civil é uma ação que envolve diversos setores estatais, tais como a Corregedoria Geral de Justiça, as Associações de Registro Civil, o Conselho Nacional de Justiça, o Departamento de Trânsito (DETRAN) e envolveu outras ações, como regularização de documentação escolar, regularização do quadro vacinal etc. Para o projeto desenvolvido na dissertação, bem como para esta exposição, alguns debates teóricos são necessários, como aqueles oriundos dos estudos de formação de Estado desenvolvidos por Antônio Carlos de Souza Lima (2002) e Philip Abrams (1988).