O objetivo deste artigo é analisar o reconhecimento dos pós-graduandos como trabalhadores intelectuais e seu impacto na saúde mental em uma universidade federal do sul de Minas Gerais- Brasil. Nesse cenário, a combinação de estudo e trabalho se apresenta como uma fonte de emancipação pessoal e construção de identidade. Este estudo, fundamentado na perspectiva do capital simbólico de Bourdieu e nos princípios da Psicodinâmica do Trabalho de Dejours, adotou uma abordagem paradigmática dentro do paradigma qualitativo da construção humana e social. Para aprofundar nossa compreensão conceitual da relação entre o trabalho na pós-graduação e seus impactos na saúde mental, foram realizadas onze entrevistas semiestruturadas. Os critérios de seleção não incluíram gênero ou renda, uma vez que o foco era obter informações relacionadas ao contexto vivenciado pelos doutorandos. A coleta de dados compreendeu um total de 11 entrevistas, sendo oito realizadas online, devido ao interesse dos doutorandos e considerações de distância geográfica, e três conduzidas presencialmente, conforme a preferência dos entrevistados. A análise dos dados foi efetuada por meio da técnica de análise de conteúdo temática, utilizando uma grade semiaberta para organizar e analisar as informações coletadas nas entrevistas. Os resultados da pesquisa destacam como o ambiente acadêmico impacta o reconhecimento dos pós-graduandos como trabalhadores e apontam que o reconhecimento do trabalho por parte dos pós-graduandos está intrinsecamente ligado a três principais aspectos: Reconhecimento Legal: A percepção da bolsa recebida como salário e a consideração das agências de fomento como empregadores simbólicos influenciam o reconhecimento do trabalho. Reconhecimento Social: A falta de formalização e horários definidos leva a uma visão equivocada por parte de outros, que muitas vezes não reconhecem o trabalho dos pós-graduandos, vendo-os apenas como estudantes. Reconhecimento Sistêmico: A falta de formalização, ausência de salário, e a visão institucional que considera a pós-graduação como um período de formação e não de trabalho, contribuem para o não reconhecimento do trabalho dos doutorandos. Esse não reconhecimento gera um sofrimento constante e promove uma transformação significativa na vida do indivíduo. Os doutorandos muitas vezes se veem em busca incessante de produtividade, percebendo-a como uma “moeda” de troca na qual quanto mais produzem, maior é a probabilidade de obter reconhecimento por seu trabalho. Isso ocorre para atender às expectativas da instituição ou dos colegas, o que contribui para a criação de um ambiente acadêmico repleto de desafios. Essa busca incessante por produtividade pode levar a mudanças significativas na vida pessoal dos doutorandos, resultando na renúncia de atividades que antes eram consideradas fundamentais. Isso pode incluir a diminuição da participação em atividades em família, a negligência das atividades físicas e culturais, e a dedicação quase exclusiva à pesquisa acadêmica. Embora o prazer esteja intrinsecamente ligado à realização de metas e às perspectivas de um futuro acadêmico promissor, o processo frequentemente é permeado por um significativo sofrimento devido à falta de reconhecimento ao longo da jornada acadêmica.