Essa comunicação tem por objetivo abordar experiências localizadas de territórios quilombolas em processo de mobilização coletiva e/ou elaboração de protocolos de consulta, relacionados ao direito coletivo de consulta livre, prévia e informada das comunidades quilombolas afetadas por obras e empreendimentos privados, assim como por normativos e regulamentações estatais que os afetem, conforme previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, promulgada em 19 de abril de 2004, através do Decreto 5.051/2004. O direito coletivo das comunidades quilombolas foi assegurado pelo Estado brasileiro na Constituição Federal de 1988, fruto de mobilizações históricas dos movimentos negros e quilombolas, que culminou com as articulações do período de redemocratização nacional em prol da garantia de direitos territoriais para os grupos autoatribuídos. Os ataques aos direitos coletivos de povos e comunidades tradicionais no Brasil vêm sendo motivo de alerta nos últimos anos e se insere em debates mais amplos sobre racismo, direitos coletivos de povos indígenas e comunidades tradicionais, lutas pela terra, devastação ambiental e crise climática. Como objeto de pesquisa, nos oportuniza uma mirada sobre os interesses e práticas de coletividades quilombolas, empreendedores, institutos de consultoria, agentes de Estado, técnicos e cientistas inseridos nesse emaranhado de relações de poder e projetos cosmopolíticos em disputa. A problemática reflete uma batalha desigual que confronta coletividades racializadas com esferas de elites econômicas nacionais e internacionais e seus aliados, como bancadas de parlamentares pró flexibilização de normativos agrários e ambientais, por meio de projetos de lei em tramitação no Congresso e Senado Federal. A pesquisa em andamento, de caráter etnográfico, visa etnografar as experiências localizadas de coletividades situadas em distintas regiões do Estado do Rio Grande do Sul, a partir de seus territórios tradicionais, afetados por obras, empreendimentos privados e normativos elaborados por distintas esferas do poder público que tem relação com os direitos das comunidades quilombola.