Ponencia

PÓS-PANDEMIA DE COVID-19: O CUIDADO COMO SABER E PODER DAS MULHERES QUILOMBOLAS DE ABACATAL-PA NA LUTA PELO TERRITÓRIO

Parte del Simposio:

SP.3: Después de la COVID-19: urgencias, desigualdades y desafíos en América Latina y el Caribe

Ponentes

MARIA AMORAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ/BRASIL

Este trabalho é parte de uma pesquisa maior que busca refletir sobre o protagonismo de mulheres quilombolas na luta pelo território tradicionalmente ocupado no Norte da Amazônia Brasileira. Para isso, toma o cuidado como categoria analítica e agenda política para refletir sobre campos de saber e poder acionados pelas mulheres quilombolas do Abacatal durante e no pós-pandemia de Covid-19, para defender a vida e preservar o território. As mulheres negras nas diásporas desde sempre tiveram os seus saberes suprimidos, usurpados e invisibilizados. De modo depreciativo, o cuidado é visto como uma prática das mulheres, intuitiva e restrita ao âmbito privado. Esse reducionismo tem apagado ao longo de séculos as cosmovisões femininas do cuidado, aquelas que lhes orientam a organizar e a preservar seus grupos. Com isso, o projeto colonial patriarcal mantém sua estrutura assentada na colonialidade do ser, do saber, do poder e do gênero, não reconhecendo as práticas de cuidado como sendo também uma agenda política contemporânea das mulheres na luta histórica contra os grandes projetos de destruição dos seus territórios e da América Latina. O cuidado, assim compreendido, constitui-se também como saber ancestral, reproduzido e veiculado entre as mulheres, aquele que tem o poder de salvaguardar as cosmologias que garantem a permanência e a atualização do grupo. Assim, refutando compreensões de uma moral e uma ética conservadoras, interessa a este trabalho, levantar questões que suscitem reflexões sobre o modo como as mulheres quilombolas articulam saber e poder por meio de práticas de cuidado, aquelas que lhes possibilitam organizar social e politicamente as suas comunidades. A etnografia, nesse sentido, possibilitou refletir sobre o cuidado como categoria nativa presente na formação da pessoa em Abacatal, sendo fundamental na organização do espaço socioterritorial. Essa reflexão possibilita situá-lo como categoria analítica e como agenda política das mulheres abacataenses. Problematiza, desse modo, a naturalização do cuidado como um saber inferior das mulheres, destituído de teoria e de poder. A intenção, portanto, é alcançar a análise das estruturas de opressão contra as mulheres quilombolas no Norte do Brasil.