Um estudo realizado na colônia Z52 em Santiago do Iguape, região quilombola da bacia do Paraguaçu, foram entrevistadas mulheres marisqueiras com o intuito de descobrir mais sobre suas trajetórias e percepções de si. A profissão de marisqueira é uma das historicamente subalternizada e vista como um sub-emprego, se assim poder-se-ia considerar. Sendo importante destacar que esta é uma profissão passada de geração para geração e ocupada por mulheres negras. Ao entrevistar essas mulheres, durante o trabalho de campo e cientes das atualizações das leis de pesca, cuja o trabalho de mariscar foi equiparado e considerado pesca, as entrevistadas em Santiago do Iguape demonstram consciência dessa mudança, no entanto, relatam não se intitularem pescadoras porque acreditam que o trabalho dos homens é mais valoroso e importante que o seu. A partir da observação participante e com apoio das teorias de gênero, raça, classe e suas interseccionalidades, estima-se identificar quais os motivos que levam essas mulheres, majoritariamente negras, enxergarem seus trabalhos como menos valoroso e mais do que isso, o local de subalternidade que a identidade de marisqueira ocupa nesse cenário das águas. Além disso, essas mulheres também relatam as dificuldades no período chamado “parada de pesca” onde ficam aproximadamente 45 dias sem poder pescar, por conta da reprodução. No entanto, as mulheres relatam a morosidade para receber o benefício chamado de seguro defeso, que acaba saindo após os 45 dias e não antes. Como vivem as mulheres do mar, durante esses 45 dias e frente a esta morosidade? Quais são as imagens de controle que fazem essas mulheres ocuparem esse lugar ou não lugar? A questão voltada para a desvalorização na venda de seus mariscos, é algo que impacta fortemente na autoestima dessas mulheres, que passam um dia inteiro mariscando para garantir o sustento da família e no final do dia, tem seu serviço desvalorizado. Historicamente o mar é construído como um lugar de mistérios e as representações masculinas perante ao mar, são sempre representações de força e aventura -, o mar visto como esse local misterioso, perigoso e dominado por homens, ajuda na construção desse processo de desapropriação das identidades marisqueiras, como foi o dado encontrado em campo.