A comunicação recorta, a partir de um enfoque que apresenta observações de campo e entrevistas com os produtores, com os contratantes de grafites e com os passantes, as formas de organização e de ação dos jovens grafiteiros atuantes em São Gonçalo/RJ, Brasil. O referido município se afigura como carente em relação a diversos campos da vivência diuturna de seus habitantes, como aparelhos de lazer e de entretenimento (parques, áreas verdes etc.), veículos de educação e cultura formais ou informais (rádios comunitárias, projetos institucionais de caráter educativo e cultural, ONG’s), que poderiam funcionar como espaços de expressão e de intercomunicação populares. Tal conformação acaba por influenciar também na apresentação visual da cidade, no sentido das manifestações humanas individuais ou grupais em seus suportes e às formas desse uso. Nesse sentido, acompanhar um grupo urbano que se manifesta neste ambiente significou concretizar uma aproximação de sujeitos sociais que, embora próximos geograficamente, estão distantes em termos de hábitos, gostos e comportamentos. Tal situação configura um paradoxo verificado por meio da pesquisa etnográfica, qual seja, o de tentar tornar o que nos parece habitual e “normal” em estranho, exótico, podendo, assim, captar seus discursos quanto à própria produção e quanto ao ambiente que a abriga: a cidade. Figurando como um espaço urbano que abriga grande quantidade de pinturas desta manifestação visual, o campo permite uma reflexão acerca do impacto desta forma de expressão, no tocante a sua contribuição para a visualidade urbana e para a produção de discursos acerca de seu fazer e das consequentes implicações para a arte, o posicionamento político e social e a utilização comercial das produções imagéticas por seus produtores. Objetivo, deste modo, apresentar os resultados de uma etnografia com o universo dos grafiteiros. Para tanto, problematizarei as falas dos sujeitos entrevistados e/ou observados, de forma a articular questões teóricas próprias da análise desta microcultura urbana e de suas interações, trabalhando aspectos e discussões sobre arte, cultura e política a partir da leitura dos próprios pesquisados.