Esta pesquisa tem como objeto de estudo a prática da performance popular no contexto do “fazer cidade” na Praça do Ferreira. Os sujeitos da pesquisa usam o corpo para manifestar sua compreensão de si mesmos e do mundo, sendo analisados na perspectiva de uma socioantropologia visual do urbano. O objetivo está em aprofundar esta abordagem a fim de compreender o urbano a partir de suas rotinas de rua e dos sentidos que atravessam a atuação performática de quatro indivíduos em um local público. A performance popular situa-se no interstício das expressões sociais criativas, seja de sujeitos que se afirmam ou não como artistas, mas que se sentem comprometidos com a elaboração de interpretações próprias acerca da vida social e das redes de sociabilidades do lugar pesquisado. A base hipotética da pesquisa acha-se na relação entre o que fazem os performers populares e seus atos de resistência mais ou menos intencionais, ao instaurar usos e “contra-usos” do espaço urbano. Os fundamentos teóricos da pesquisa encontram-se na Etnografia de/na Rua (ECKERT e ROCHA, 2001), mas também na lógica interacionista de Georg Simmel (SIMMEL, 1983), na antropologia do corpo de David Le Breton (LE BRETON, 2007), nos estudos das representações de Erwing Goffman (GOFFMAN, 2009) e na antropologia visual de Marc Piault (2018), dentre outros. O pressuposto formulado por Michel Agier (2015), de que para fazer-cidade é preciso estar na rua, orientou as caminhadas no Centro, como um palmilhar o território da Praça e do seu entorno, propiciando a apreensão sensorial do campo investigado.A caminhada revelou-se uma experiência socioantropológica de “estar no mundo”, em movimento, conhecendo e escrevendo (INGOLD, 2021). Passar do lugar ao movimento, implica na elaboração de cartografias urbanas que interligam a Praça, os performers e a pesquisadora, na descoberta comum de “estar vivo(s) para (e no) mundo” (idem). O percurso metodológico se deu procedimentos sugeridos pelo campo, de modo processual, como a etnografia de/na rua, a observação participante, o questionário semiestruturado, as cartografias e o registro em foto e vídeo. A decupagem das imagens e roteirização do conteúdo imagético subsidiaram a auto-reflexão do processo metodológico da descrição etnográfica que, baseada na experimentação, fez emergir uma nova cidade.