Os saberes ancestrais nas batalhas simbólicas nos cerrados centrais
Nilton José dos Reis Rocha
Universidade Federal de Goiás
Resumo
Os cerrados centrais, no Brasil, esse grande ancestral, se constituíram, como sócio-bioma ( Rocha, 2020), em cima de uma diversidade cultural e linguística muito grande. A chegada do povo Caribe, como se acredita, desviando de grandes rios, pântanos e montanhas reforça este elemento constitutivo onde a mullier/homo cerratensis ( Rocha, idem;.Bertran apud Barbosa, 2011),nos últimos 18 mil anos, construíram uma civilização rude, diversa e criativa( Pádua,2006 )
Uma gente, como se sabe, que não esperou o Gênese e decidiu co-evoluir com a natureza ( Porto Gonçalves,2002 ) , numa complexa e eficaz reciprocidade, onde criador e criatura se misturam, se completam. Extensos universos, com gente e territórios encantados, que, depois de cinco séculos ainda se batem em defesa de seu modelo de sociedade , que nunca comportou a contradição profunda entre ser senhora/or e/ou escravizados/os ( Dias,2001 ; Mann,2005 )
Ou seja, um embate e um combate não só com o agronegócio predador e violento, contra a natureza e tudo que ela comporta, inclusive todos seres viventes, mas, também, com o seu braço político-cientifico nas academias universitárias, centros de pesquisa e meios de comunicação do capital que, do ponto de vista epistêmico e metodológico, constroem o que se define, agora, como agrocognição ou agroburrice (Mostafa Habib 2011).
Assim, o contraponto a esse modelo só virá dos povos originários, povos preto e pardo, povo cigano, povo ribeirinho, e mesmo povo de rua – onde os cerrados se estendem e atravessam os valores urbanos – como os mais importantes conhecedoras/es – do ponto de vista humano, filosófico, cultural e agronômico – da vida política comunitária, sua medicina e sua ancestralidade que ordena, recicla continuamente e dá sentido à vida.
Este texto , portanto, se propõe a pensar e reencontrar estes fios que ( nos ) ligam à ancestralidade cerradeira, enquanto possibilidade concreta e construção do mundo. A experiência de jovens Boe (Bororo) com a academia, pensando esta ancestralidade, e os esforços em construir formas de comunicação compartilhada que dialogam com as/os boku kejewuge ( moradoras/es do cerrado) mas também com a humanidade.
Uma leitura, e sua reflexão consequente, que reencontre esta ancestralidade cerradeira. O que exige mergulho em outra pegada epistêmica e metodológica que, em sentido bem concreto, remete à certeza de que as e os conquistadoras/es tiveram, para sobreviver nos cerrados, também aprenderam com as e os boku kejewuge . onde estariam também os vínculos. históricos e sócio-antropológicos. com povos do Abya Yala e seus caribenhas/os.
Assim, ousa-se, aqui também, construir reflexão sócio-antropológica deste sócio-bioma a partir das ferramentas, teóricas e metodológicas, que a comunicação e seu jornalismo compartilhado popular podem oferecer, ciente de que ela, a comunicação , em vez de ciência isolada, se constitui no cruzamento das ciências sociais.( Rocha, idem ), bebendo na história, sociologia, geografia e , de modo especial, antropologia. Ainda de que forma rude.